Passada a greve dos caminhoneiros e empresas e entidades empresariais fazem as contas do estrago, bem como o futuro impacto em abastecimento, preços, inflação e atividade econômica.
A constatação é de que o presidente Michel Temer aceitou todas as demandas dos caminhoneiros, muitas delas mais do que justas, mas a Tabela de Frete, divulgada pela Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), traz em si muitos prós e contras.
Na última sexta-feira, para assombro até mesmo das entidades empresariais, a ANTT informou que os efeitos da Resolução nº 5821/2018, estavam suspensos – veja a nota da agência.
Apesar disso, as coisas não estão resolvidas, uma vez que voltou a valer a primeira versão da Tabela do Frete, cujos impactos chegam a ser até três vezes maiores para as empresas que a última versão.
Um nova reunião está marcada para esta segunda-feira, 11, às 9h00, entre técnicos da ANTT e representantes dos caminhoneiros para discutir o assunto, mas a ANTT já avisa que uma eventual terceira versão da tabela será submetida a uma audiência pública que durará de 30 a 45 dias.
Vale destacar que, enquanto continua o impasse, segue em vigor a primeira versão da tabela, editada no último dia 30 de maio, nos termos da Medida Provisória 832/2018, que instituiu a ‘Política de Preços Mínimos de Transporte Rodoviário de Cargas’.
Perdas e mais perdas
Uma posição contra a existência da tabela de frete é do vice-presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Ricardo Santin, cuja “entidade sempre se posicionou contra a tabela de preços” e as consequências da adoção do novo modelo de preços para o frete são insustentáveis.
“Representa aumento de preços. Não tem como não ter. Aumento de preços porque é aumento de custo. Nós não sabemos, somos uma entidade que não trabalha com preços, não sei qual o preço que cada empresa cobra, mas dependendo da empresa, situação e da sua conformação de logística vai encarecer de acordo com cada caso”, disse ele a Agência do Radio Mais, de Brasília.
Outra entidade que representa os produtores rurais e também se posicionou contrária à medida do governo foi a Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). Em nota publicada no site oficial, a CNA alertou “que produtos como grãos chegariam a ter valores 152% mais caros, com um encarecimento de até R$ 13 mil no transporte do Mato Grosso ao Porto de Santos, principal rota para a exportação”.
Já segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI), o transporte de arroz pelas rodovias do país terá aumento de 35% a 50% no mercado interno e de 100% para exportações.Na indústria de aves e suínos, o impacto do tabelamento sobre o custo do transporte foi calculado em 63%. Já o frete de rações para alimentar os animais tende a aumentar 83% e no setor de papel e celulose, a alta do preço para transportar os produtos será de 30%.
Custo logístico vai subir 80%
Outra entidade que se posicionou acerca do tema foi a Associação Brasileira das Indústrias da Alimentação (ABIA).
Segundo o presidente Wilson de Mello da associação, “tabelar o preço mínimo dos fretes vai aumentar o custo da logística da indústria de alimento em até 80%.
“Achamos que não há necessidade de se estipular frete mínimo no país. Agora, não é essa a realidade que a gente tem hoje. Qual é a consequência do frete mínimo? Um aumento de custo de 30% a 80% na logística da indústria de alimentos”, diz.
A leitura de Wilson de Mello é de que as empresas vão perder competitividade, mesmo aquelas que trabalharem com exportação, em que pese a forte valorização do dólar nas últimas semanas, fruto, inclusive, dos impactos da greve dos caminhoneiros.“Menos rentabilidade, menos investimento, menos investimento, menos crescimento”, diz.
Tabelamento é retrocesso
“O tabelamento não resolve nada. O tabelamento é um retrocesso. Houve aí muitos tabelamentos que sempre terminaram no mercado paralelo, com menos investimentos, escassez, e no final, perda para a sociedade.” O ponto de vista foi dado pelo presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (ABIT), Fernando Valente Pimentel, que já prevê aumentos de preços no valor das roupas compradas pela população.
“Vai impactar o preço do vestuário, principalmente para as pessoas de menor renda, porque quanto maior o valor agregado, maior o preço do frete. Portanto, nós entendemos que não é a solução, pelo contrário, tenta-se resolver um lado dessa equação que são os caminhoneiros, que tem que ser resolvido sim, por outro lado temos a diminuição da atividade econômica, o que acaba gerando o fato de não ter carga para ser transportada”, diz.
Fernando Valente Pimentel se mostra totalmente contra a decisão do governo e da ANTT. “Nós somos contra esse tabelamento, que vai contra a livre iniciativa. Ele chega às raias da inconstitucionalidade, e obviamente, está trazendo um prejuízo para todo o país”, conclui.
Da Redação da Transportepress com Agência RádioMais, de Brasília.