*Por Urias Rodrigues
A forma como é feita a coleta e a destinação de resíduos sólidos é decisiva para o meio ambiente e a qualidade da vida nas cidades. É preciso que todos os processos sejam tecnicamente corretos, para evitar contaminações e desconfortos para a sociedade. Recursos humanos bem treinados, caminhões, instalações e equipamentos modernos são essenciais para que todo resíduo seja recolhido e encaminhado à destinação final de maneira adequada.
Nas cidades grandes, há outro fator muito importante: o uso de estações de transbordo, nas quais os resíduos coletados pelos caminhões compactadores são transferidos para carretas de maior capacidade, que os transportam ao destino final. Isso é necessário devido à dificuldade de áreas próximas aos bairros para instalar aterros sanitários, o que faz com que eles fiquem muito distantes dos locais de coleta.
Ao possibilitar a redução do número de caminhões que trafegam nas vias e permitir o seu retorno imediato para a coleta, causando menor impacto no trânsito e economizando recursos naturais e financeiros, tempo e mão de obra, o transbordo contribui, também, para a minimização das emissões dos gases de efeito estufa, prejudiciais à camada de ozônio. Há, aí, um ganho econômico-ambiental para a cidade, com a redução do consumo de combustível, além de impacto positivo no trânsito e maior eficiência logística e produtividade.
A cidade de São Paulo tem três estações de transbordo. Uma delas, localizada na Ponte Pequena, Bom Retiro, é de responsabilidade e gestão da empresa Loga, que atende a Região Noroeste do município, compreendendo o Centro e as zonas Norte e Oeste. As duas outras, localizadas no Ipiranga e em Santo Amaro, são operadas pela EcoUrbis, responsável pelas zonas Sul e Leste da cidade.
Segundo a prefeitura paulistana, a cidade coleta, em média, 20 mil toneladas diárias de resíduos (residenciais, de saúde, restos de feiras, podas de árvores e entulho). A população de São Paulo é de 12,03 milhões (fonte: IBGE). Temos, portanto, 1,49 quilo de resíduos por morador/dia e uma estação de transbordo para cada 4,01 milhões.
No Rio de Janeiro, são 6,49 milhões de habitantes (IBGE), 8,40 mil toneladas diárias de resíduos (1,29 quilo por pessoa) e cinco unidades de transbordo (uma para cada 1,30 milhão de cariocas). Em Nova York, são 8,5 milhões de habitantes, 26 mil toneladas/dia (3,05 quilos para cada um) e três estações de transbordo (uma para cada 2,83 milhões de pessoas).
As duas metrópoles brasileiras e a norte-americana, como ocorre com outras em todo o mundo, transportam o resíduo para destinos finais cada vez mais distantes dos centros urbanos. No caso de Nova York, há aterros sanitários localizados até mesmo na Virgínia (600 quilômetros) e Pensilvânia (300 quilômetros).
Os dados deixam claro o significado logístico do transbordo para o gerenciamento dos resíduos sólidos nas grandes cidades. Por isso, a expansão desse serviço específico pode ocorrer à medida que a demanda aumente ou quando houver mudança no sistema logístico, sempre para tornar o processo cada vez mais eficaz.
É importante, também, que novas estações a serem instaladas tenham um padrão elevado de qualidade, como a da Ponte Pequena, em São Paulo, dotada de tecnologia de ponta no tratamento do ar, isolamento acústico, controle de odores e efluentes líquidos, fatores imprescindíveis para viabilizar a chamada “transferência limpa”, mitigando os impactos ambientais.
O uso adequado das tecnologias disponíveis a favor das unidades de transferência proporciona resultados altamente positivos para a sociedade. Podemos pensar em casos como o de Barcelona, onde a revitalização da área portuária para a Olimpíada de 92 contou com a instalação de um sistema de coleta automatizado ligado a uma estação de transferência, ao lado de um grande mercado. Aquela área ganhou maior eficiência no serviço de limpeza pública e o equipamento cumpre sua função, convivendo em perfeita harmonia com região de alta presença de turistas, em uma das cidades mais badaladas da Europa.
Deve-se enfatizar, ainda, que as estações de transbordo não são aterros sanitários e nem lixões (estes, aliás, nem existem mais em São Paulo, um dos municípios brasileiros nos quais já foram extintos, conforme determina a Política Nacional de Resíduos Sólidos – Lei 12.305/10). São unidades nas quais o resíduo jamais fica estocado. Trata-se, sim, de um equipamento importante para a infraestrutura e a logística de toda a limpeza urbana e a qualidade do meio ambiente nas grandes cidades.
*Urias Rodrigues, engenheiro e coordenador de Destinação Final da Loga (Logística Ambiental de São Paulo).