Por Carlos E. Panitz (*)
É muito difícil copiar a estratégia e os processos de uma cadeia de suprimentos. Em tempos quando a competição se dá entre cadeias e não mais entre empresas, essa afirmação, retirada do livro ‘O mundo é plano’, se torna cada vez mais uma realidade para diversos segmentos da indústria e do varejo.
Dois dos principais alicerces para gerar um diferencial no posicionamento de uma cadeia de suprimento residem na forma como estão estruturados os processos logísticos e de planejamento.
O racional para essa afirmação é simples: as funções de planejamento (demanda, produção e materiais) e gerenciamento dos fluxos logísticos (suprimentos e distribuição) ditam como e quando boa parte dos recursos de uma cadeia produtiva é alocada para satisfazer de uma demanda, qual será o tempo de resposta da cadeia e que riscos existem para o negócio.
Para contextualizar a discussão, serão enumeradas algumas tendências pesadas que têm se intensificado nos últimos anos sobre o desafio de gerir cadeias de suprimentos:
(1) a competição nos canais de venda tem se tornado mais dura e com menos espaço para faltas ou rupturas;
(2) o ciclo de vida dos produtos tem se tornado cada vez menor em diversos setores, seja pelo efeito da competição, seja por efeitos regulatórios ou por inovações tecnológicas; e
(3) muitas empresas com ou sem presença global tem selecionado fornecedores em várias partes do mundo, tornando sua cadeia de suprimentos cada vez mais dispersa geograficamente e com longos ‘leadtimes’ de ressuprimento.
Por fim, (4) a crescente complexidade e a diversidade portfólios de produtos estão se tornando um fator de competitividade para algumas empresas (que fazem projetos modulares) e ou pesadelo para outras (que fazer projetos de engenharia específicos com pouca comunalidade entre produtos).
As implicações da combinação desses fatos remetem à pergunta: como é possível imaginar gerir e coordenar esses fluxos de valor apenas com os recursos de planejamento que costumam ser denominados de MRP ou MRP II?
Como garantir que os profissionais que atuam nessas funções estejam preparados para entender as implicações e as soluções que suportam excelência operacional e vantagem competitiva.
O hiato não está na tecnologia, essa já avançou muito nos últimos 20 anos. Ele está no entendimento de como utilizar os avanços tecnológicos disponíveis para habilitar melhores práticas como planejamento colaborativo na cadeia, VMI, entregas sequenciadas, postergação etc.
Se no passado empresas usavam apenas o MRP para planejar matérias e enviavam programações (ou ordens de compra) para o próximo elo da cadeia, hoje é possível compartilhar estoques em tempo real entre canais de venda e fabricantes, entre linhas de produção, seus fornecedores e operadores logísticos.
Sistemas de ERP estão hoje muito mais adaptados para conversar com sistemas especialistas e outros legados para criar uma verdadeira estrutura para planejamento e coordenação.
O gerenciamento logístico de uma empresa não está mais aprisionado ao perímetro contábil da portaria e expedição das unidades fabris ou filiais. O potencial de inovação e aplicação de melhores práticas em gestão de cadeia de suprimentos reside na combinação adequada de tecnologias de integração disponíveis como ferramentas de ‘middleware’, webservice, XML e sistemas especialistas desenvolvidos para suportar processos logísticos de planejamento e de execução.
Podem soar um pouco “ciência de foguetes” essas expressões e siglas, mas o que elas podem trazer de resultados são bem conhecidas no mundo dos negócios: melhorar o tempo de resposta da cadeia, prover agilidade e flexibilidade, reduzir rupturas de estoque, alavancar o giro de estoques, mitigar riscos de fretes especiais e aumentar o ROIC de uma empresa.
Oferecer visibilidade e planejar de forma colaborativa, diferenciar o produto somente quando a demanda é realmente conhecida são práticas de negócio que potencializam essas dimensões de competição. Tecnologia não é uma solução se não for devidamente adaptada para habilitar o modelo de negócio que se quer. Entender como utilizar essas tecnologias disponíveis e adaptá-las para criar um diferencial no posicionamento da cadeia de suprimentos, sim.
Essa temática estará em debate no 1º Simpósio SAE BRASIL de Manufatura e Logística, que será realizado neste dia 20 de junho, na sede da Fiergs em Porto Alegre, Rio Grande do Sul.
(*) Carlos E. Panitz é o chairman do Simpósio de Logística e membro da mesa Diretora da SAE BRASIL – Seção Porto Alegre.