*Por Ricardo Bacellar
A economia global começou a se recuperar e algumas características da realidade econômica e social brasileira, como elevadas taxas de juros e baixos níveis de investimento, tiraram do País não só um importante espaço no mercado, mas também a atratividade para investidores.
Ao contrário do panorama de crescimento econômico favorável de cinco anos atrás, o momento agora no Brasil é de incertezas e atenção por parte dos gestores.
Um dado alarmante que confirma este atual cenário é o alto número de falências e de companhias em processo de recuperação judicial no País. Em 2008, eram 312 e o número mais que dobrou no ano seguinte (670). Já no ano passado, foram 874 pedidos, um recorde maior que o registrado em 2009, momento pós-crise mundial.
Dados de uma pesquisa realizada pela KPMG no Brasil com executivos de instituições financeiras, investidores e empresários mostram que essa onda de incerteza já chegou à indústria.
Cerca de 25% dos entrevistados apontaram que o segmento formado pelas montadoras de veículos e autopeças deve ser o mais afetado em um cenário econômico instável. Este foi o segundo setor mais citado, ficando atrás apenas de imobiliário e construção civil.
E os números do setor ratificam que 2014 não têm sido bom para a indústria automotiva. Julho teve sua pior produção para o mês em oito anos, segundo dados divulgados pela Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores).
Ao compararmos com o mesmo período do ano passado, o mês registrou uma queda de 20,5% na produção (252,6 mil x 317,9 mil unidades). No acumulado dos primeiros sete meses de 2014, o setor apresenta queda de 17,4%, com 1,82 milhão de unidades, ante o mesmo período do ano passado, que atingiu 2,2 milhões de veículos.
Outro dado que precisamos destacar é que acabamos de passar pelo pior primeiro semestre da indústria desde 2010. Foram vendidas de janeiro a junho, 1.583.066 unidades, contra 1.707.633 no mesmo período do ano passado, o que indica uma queda de 7,3%. Apesar da expectativa de melhora, principalmente devido à manutenção da redução do IPI, ainda há forte restrição ao crédito, o que interfere diretamente nas vendas das montadoras.
Não podemos deixar de citar os altos impostos que incidem sobre a venda de automóveis. Estudo sobre a carga tributária do veículo brasileiro com base na participação dos impostos no preço final ao consumidor, também divulgado pela Anfavea, aponta que 28,1% do valor de um automóvel flex com motorização entre 1000cc e 2000cc são de impostos.
Esse dado se torna mais impactante se compararmos com outros países como Estados Unidos (7%) ou Japão (9,9%). Outros levantamentos indicam também o percentual da carga tributária adicionado ao preço do veículo sem impostos e, nesse caso, no Brasil é de 54,2%.
Diante deste contexto não tão promissor, a cadeia automotiva no Brasil já apresenta sinais de alerta e as empresas do setor já se mobilizam para evitar que uma crise se instale de maneira acentuada. Neste caso, vale a pena ficar atento a qualquer indício de que a empresa pode não estar passando por uma situação confortável, como alto nível de endividamento, redução de rentabilidade, pressão no capital de giro e baixa geração de caixa nos próximos meses.
Também é valida a criação de uma força tarefa formada por empreendedores, bancos, investidores, dentre outros, agindo de maneira integrada, atuando em conjunto e adaptando suas práticas para, dessa forma, utilizar suas competências com o objetivo de evitar crises e manter o valor das empresas.
Vale lembrar que quanto mais cedo for feito o diagnóstico de problemas e tomadas as providências necessárias, mais chances as companhias têm de se manter saudável.
*Ricardo Bacellar é diretor de relacionamento da KPMG no Brasil para o setor automotivo