Por Craig Simon*
Durante a maior parte da história, a cadeia de suprimentos que une o mundo hoje seria inimaginável. O caminho que leva ao mercado é, agora, uma superautoestrada. As operações acontecem 24 horas por dia, sete dias por semana. O comércio global não dorme. Na verdade, ele sequer tira um tempo para cochilar. Rodas no chão, asas no ar e quilhas na água conectam uma economia mundial quase sem fronteiras.
Ao mesmo tempo, ainda que a superautoestrada global possa estar sobrecarregada, ninguém no setor de transportes duvida que ser mais rápido, barato, seguro e simples continua sendo a moeda fundamental para o sucesso nesse mercado. As empresas globais, que nunca dormem, exigem e merecem nada menos do que isso.
Isso pode sugerir que a cadeia de suprimentos do futuro precisará ser bastante diferente. Alguns imaginam até opções de teletransporte, ao estilo da série de ficção científica Star Trek, e impressões em 3D, um serviço altamente sofisticado capaz de transportar mercadorias pelo espaço cibernético, levando, por exemplo, peças automotivas de uma fábrica na China, até uma linha de montagem nos Estados Unidos. Uma possibilidade intrigante.
Contudo é bem mais provável que, em 20 anos a partir de hoje, o transporte de mercadorias ainda seja realizado principalmente por aviões, navios, trens e caminhões. Um cenário menos exótico, talvez, mas as operações terão um nível de precisão quase que molecular. À primeira vista, a cadeia de suprimentos do futuro não parecerá tão diferente, mas sua visibilidade será extraordinária em 2033. Ela irradiará dados.
Já estamos nos aproximando desse nível de transparência; entretanto, no futuro, todos os itens de um envio contarão com etiquetas digitais, equipadas com minúsculos sensores que possibilitarão um nível inédito de monitoramento e rastreamento, em tempo real.
Atualmente, a FedEx já oferece o SenseAware, um dispositivo maior, com vários sensores, para envios de alto valor. Ele pode ser usado em todos os meios de transporte, inclusive aeronaves, e está disponível nos Estados Unidos e em mais de uma dúzia de localidades internacionais. Em 2033, os sensores serão onipresentes.
A cadeia de suprimentos será altamente eficiente, com personalização em nível individual. Cada um de nós terá acesso a uma torre de controle personalizada – um centro de comando para cada pacote – na palma de nossas mãos, através de um smartphone, tablet ou outro dispositivo.
Hoje, as empresas maiores já dispõem de equipes encarregadas de gerenciar as “torres de controle” e monitorar eventuais interrupções na cadeia de suprimentos, sejam elas causadas por um evento climático, uma falha mecânica ou conflitos civis. Em 20 anos, algoritmos ainda mais avançados estarão constantemente calculando a relação entre velocidade e custo para cada um de nós, oferecendo várias opções globais para alterar a rota de um envio, para acelerar ou para retardar a entrega.
Essa riqueza de dados também trará maior segurança à cadeia de suprimentos. Será possível saber a posição de um envio – a localização de um carregamento de lava-louças ou a temperatura de um envio contendo tecido humano – de forma ainda mais precisa. Isso simplificará a cadeia de suprimentos. Dispor de uma visão em 360 graus de uma jornada a deixa mais simples, torna até as rotas complexas mais fáceis de enxergar, promove ganhos de eficiência, economias de custo e nos deixa confiantes de que as mercadorias chegarão em segurança, no prazo previsto.
Essa flexibilidade será estendida a um dos principais fundamentos da cadeia de suprimentos – a consolidação. Em 2013, a maioria dos envios é consolidada e acomodada em contêineres no compartimento de carga de uma aeronave ou de um navio, ou na carroceria de um caminhão.
Em 2033, a cadeia de suprimentos oferecerá inúmeras possibilidades, entre elas, a desconsolidação, ou seja, a remoção de parte ou até mesmo de um único item de uma carga consolidada. Com isso, será possível acelerar – ainda que a um custo maior – a customização e o envio de um equipamento de diálise de uso pessoal do Vietnã até o porto de Los Angeles e, a seguir, entregá-lo a um paciente que precisa dele com urgência na cidade de Kansas. Em vez de enviá-lo por caminhão, junto com dezenas de outros dispositivos, quando os produtos chegarem aos Estados Unidos, a transportadora terá a opção de separar uma unidade do restante do carregamento e enviá-la de avião, na forma de encomenda expressa.
Por fim, é possível que outro tipo de consolidação também ganhe espaço na cadeia de suprimentos. O processo de fabricação de um equipamento de diálise de uso pessoal, por exemplo, será combinado com o processo de envio e descarte do item, ao final de sua vida útil. O processo, que determinará onde o produto será descartado, será codificado no próprio item durante a fabricação.
Uma encomenda de um dispositivo realizada na cidade de Kansas poderia conectar-se instantaneamente a uma matriz de fabricantes e transportadoras inter-relacionadas e, por fim, completar o círculo virtuoso até seu derradeiro destino – um centro de reciclagem de componentes. Imagine usar seu telefone para escanear um código de barras bidimensional no produto e receber, automaticamente, a visita de um courier que não só coletará o item, mas também terá instruções precisas para o envio final.
Sustentabilidade será fundamental. Um dos maiores experts mundiais em cadeia de suprimentos, o Dr. Edgar Blanco, do MIT, disse: “Temos sido ótimos em levar algo até você. Mas não temos sido tão bons em pegar de volta aquilo que levamos até você. Devemos tentar extrair mais valor, recuperando e reciclando materiais que podem ser recuperados e reciclados ou até mesmo repassando esse produto a outras pessoas, quando você não precisar mais dele”.
Trata-se de uma visão expansiva. O setor de transportes tem estado na vanguarda da sustentabilidade, empreendendo esforços constantes e contínuos para reduzir sua pegada de carbono e criar uma cadeia de suprimentos cada vez mais ecológica. Esse compromisso será mantido e poderá, eventualmente, abranger todo o ciclo de vida de um produto.
A cadeia de suprimentos moderna percorreu um longo caminho desde a época em que os produtos chegavam ao mercado em carroças puxadas a cavalo, porém está longe da era dos envios no espaço cibernético.
Ainda assim, em 20 anos, a cadeia de suprimentos do futuro será mais afinada, acessível, confiável, sustentável – e rentável – do que nunca. Essa notícia é ótima para a economia global, da qual todos nós somos tão dependentes. Agora mesmo, a superautoestrada da economia mundial está melhor do que nunca. Mas a melhor notícia é que ela ainda está sendo construída.
* Craig Simon é presidente e CEO da FedEx Supply Chain