Por Iêda Maria Alves de Oliveira (*)
Não é de hoje que especialistas alertam para os males causados pela poluição nas grandes cidades. Mas o sinal vermelho está cada vez mais presente na vida dos habitantes do Estado de São Paulo.
Uma pesquisa inédita do Instituto Saúde e Sustentabilidade, realizada por pesquisadores da USP (Universidade de São Paulo) e divulgada recentemente, aponta que a poluição atmosférica vai matar até 256 mil pessoas nos próximos 16 anos no Estado, sendo que ao menos 25% das mortes, quase 60 mil pessoas, apenas na capital paulista.
Os pesquisadores recomendam a urgência de medidas mais rigorosas para o controle da poluição do ar, buscando formas alternativas de energia, por meio do incentivo ao transporte não poluente como bicicleta e ônibus elétrico.
O crescimento dos níveis de poluição em várias partes do mundo vem sendo um dos fatores, por exemplo, para o renascimento dos trólebus como transporte limpo e emissão zero de poluição.
Hoje, já são mais de 40 mil veículos operados em 364 cidades em 47 países do mundo. Além dos países da Europa Oriental, esses veículos circulam por cidade da Rússia, Canadá, Brasil, Equador, México, Nova Zelândia, China e Grécia.
Os primeiros trólebus começaram a ser produzidos em 1882 pelo engenheiro alemão Werner von Siemens. No Brasil do início do século XX, os charmosos bondes já percorriam 227 quilômetros de trilhos na capital paulista.
São histórias como essas que nos faz lembrar que no passado já adotávamos opções muito mais sustentáveis do que encontramos no presente.
Uma boa parcela dessas mudanças vem da forte atuação da indústria automobilística, aliada a expansão dos veículos para uso familiar, que disparou o uso de combustíveis fósseis como principal fonte energética dos nossos veículos.
O cenário de aquecimento global e poluição atmosférica faz dos veículos elétricos uma das principais soluções para o transporte público. As discussões sobre a relação de custos e benefícios alcançam novos patamares, mas os indicadores qualidade de vida vêm ganhando espaço nesse debate como importante referência.
Os trólebus ainda têm custos superiores por unidade em relação aos veículos movidos a diesel, mas sua vida útil é de 20 anos, melhor do que os 14 anos de um ônibus tradicional.
Pesquisas dos custos de utilização mostram ainda que os gastos de manutenção e de propulsão por quilômetro de operação é de aproximadamente 7% superior nos trólebus em comparação ao ônibus diesel.
Os investimentos são maiores diante dos custos operacionais fixos da rede aérea, mas os custos variáveis podem compensar — os gastos de energia para trólebus são bem menores.
Os exemplos de melhoria da qualidade de vida com uso dos trólebus no sistema de transporte urbano se multiplicam. Aqui mesmo, na região metropolitana de São Paulo, um levantamento com a frota de trólebus no Corredor Metropolitano ABD em 2013 mostrou que 4,31 milhões de litros de óleo diesel deixaram de ser queimados pela frota da concessionária Metra.
Os cálculos da empresa mostram que aproximadamente 9 mil de toneladas de CO2 deixaram de ser emitidos na atmosfera no período analisado. O corredor é ainda o lugar de testes do E-bus, o primeiro ônibus elétrico brasileiro movido 100% a baterias, com autonomia operacional de 200 km e sistema de recarga rápida.
Na capital paulista, os trólebus resistiram a muitas pressões e continuam responsáveis pelo atendimento de 11 linhas, que transportam 2,4 milhões de passageiros por mês. No total, a cidade conta atualmente com mais de 250 trólebus.
Uma parte da frota utiliza tecnologia que garante 7km de percurso sem rede aérea. Novos e sofisticados, eles vão muito além do charme que marcaram sua participação no transporte há cerca de 60 anos no Brasil. Esses veículos combinam qualidade de transporte público, com conforto e tranquilidade, e sustentabilidade, melhorando a cada dia o ar que respiramos.
A adoção de transporte público com soluções sustentáveis, principalmente nas metrópoles, é um caminho que devemos seguir como única solução viável para reduzir a emissão de poluentes e, em consequência, diminuir os problemas de saúde da população causados pela poluição.
(*) Iêda Maria Alves de Oliveira é gerente da Eletra.