*Por Victor Simas
A sociedade brasileira se depara diariamente com sérios problemas e demandas da mobilidade urbana. O conceito, definido como “a capacidade de deslocamento de pessoas, produtos e materiais dentro do perímetro urbano para atividades corriqueiras”, muitas vezes, também é o tema principal de debates na iniciativa privada e preocupação recorrente de autoridades governamentais nas mais diferentes esferas.
De fato, mesmo para um leigo, não é difícil constatar (e até sentir na pele) que o País tem graves problemas de mobilidade. Os grandes centros crescem continuamente, e as vias e principais meios de transporte não acompanham essa evolução, tornando-se precários, tanto na locomoção de produtos quanto de pessoas.
É necessário entender melhor a realidade da mobilidade urbana no Brasil, que influencia diretamente a economia nacional e reflete na qualidade de vida (e no bolso) dos cidadãos. As reformas ou melhorias das vias custam caro e costumam demandar longos prazos para realização. É necessário, obviamente, atentar-se também para o fato de que nas grandes cidades residem, atualmente, muito mais pessoas do que há vinte anos.
Nesse cenário, não é difícil concluir que o planejamento urbano e a gestão pública não conseguem acompanhar o ritmo. O setor carece de investimentos, para que o avanço na qualidade de ir e vir de pessoas e produtos sustente progressos sociais e econômicos, no âmbito regional e também na esfera nacional.
Quando contextualizamos a situação da Região Sudeste, locomotiva financeira do País, o cenário é ainda mais preocupante. A região composta pelos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo e Minas Gerais é a mais populosa e a que detém o maior PIB do País – cerca de 55%.
Para iniciar avanços e melhorias nas rodovias e no trafego de mercadorias e pessoas, especialistas calculam que a região precisaria, nos próximos cinco anos, de um investimento de mais de R$ 580 bilhões.
A localidade irá receber nos próximos anos importantes eventos internacionais, como a Copa do Mundo e as Olimpíadas, o que aumentará assustadoramente o fluxo de pessoas circulando em um período muito curto. Tudo isso compõe um cenário em que é mais do que imperativo que nos dediquemos rapidamente a planejar e a investir.
O governo tem se valido dos investimentos do setor privado como uma saída para acelerar os avanços na mobilidade urbana. De fato, em teoria, os benefícios tendem a ser mútuos. Na prática, por enquanto temos as concessões rodoviárias como prova de que as negociações bem direcionadas e as parcerias podem dar certo.
Algumas iniciativas são implementadas na tentativa de minimizar os problemas de mobilidade urbana. Na locomoção de pessoas, uma dessas medidas é o rodízio de automóveis, como em São Paulo, que tem por objetivo desafogar o trânsito alternando a circulação em dias da semana. A criação de faixas e vias exclusivas para ônibus e motocicletas também buscam melhorias.
Entretanto, são medidas atenuantes, sem uma contribuição consistente e resolutiva. Para o setor de distribuição de bebidas, que é o universo no qual a Confenar atua, a falta de planejamento para manutenção e construção das vias, que não estão compatíveis com o grande volume de veículos que circulam nesses locais, afeta diretamente a circulação dos caminhões e atrasa as entregas, comprometendo o custo do transporte.
Sem contar outro fator que contribui para os entraves da mobilidade urbana nas grandes cidades: o volume de caminhões velhos que circulam nas principais vias. Nesse caso, alguns problemas devem ser pontuados, como a idade média da frota brasileira, que gira em torno dos 21 anos e deveria ser de dez anos, para veículos de forte desgaste.
Ressalte-se que a manutenção de uma frota jovem e o cuidado com os veículos que circulam nas principais vias das metrópoles são realmente vitais, para desafogar o volume de veículos, garantir a segurança e contribuir para o meio ambiente.
Já para o motorista, a deficiência na mobilidade e a restrição de circulação significam viagens perigosas, incertas e mais longas. Para tentar driblar essas dificuldades, as distribuidoras de bebidas buscam medidas alternativas, como aumentar a frota, com mais opções de veículos e serviços. Procuram incluir em sua estrutura de trabalho os veículos urbanos de carga (VUCs) e outros utilitários e oferecer parcerias com serviços locais de entrega.
Com ações pontuais como essas, é possível manter os produtos circulando e, assim, deixar os clientes e a população abastecidos. Porém, os grandes desafios dos problemas da mobilidade urbana continuam e o setor de distribuição de bebidas e outros produtos se empenha, diariamente, para vencer parte dessa batalha.
*Victor Simas é presidente da Confenar (Confederação Nacional das Revendas Ambev e das Empresas de Logística da Distribuição)