Por Eduardo Meirelles*
Atualmente, o Brasil possui uma frota licenciada com pouco mais de 70 milhões de veículos. Destes, 45 milhões foram produzidos nos últimos 10 anos e podem ser considerados “seguráveis”. Porém, apenas cerca de 25% dos veículos do país possuem seguros.
O principal ponto que motiva os proprietários de automóveis no país a contratarem um seguro é a proteção do seu patrimônio contra o roubo. Já em países de primeiro mundo, a cultura é de proteção de responsabilidade civil no caso de danos a terceiros. Em muitos deles este seguro é até obrigatório.
Distante dessa realidade, nossas seguradoras excluem de forma indireta qualquer veículo com mais de cinco anos de existência. Digo de forma indireta, pois o valor do produto que elas oferecem cai muito pouco em relação à desvalorização do veículo ao longo dos anos. Com isto a percepção do segurado é que o seguro fica muito caro para um veículo já desvalorizado.
Prova disso é que a taxa de penetração do produto de seguros cai conforme a idade do veículo. Observamos que, nos zero quilômetro, a taxa de contratação do seguro chega a ser de 90%. Porém, a cada ano de vida dos veículos cerca de 11% destes deixam de contratar seguro.
Analisando esse cenário a Superintendência de Seguros Privados (Susep) prepara para colocar em consulta pública o seguro popular para automóveis, motos e caminhões. A ideia é criar no mercado um produto para contemplar a frota brasileira com mais de cinco anos de uso (classe B e C). Este produto poderá custar até 40% menos que o tradicional.
Porém, caso seja aprovado, o consumidor deverá ficar muito atento na hora de fechar o contrato. Este produto poderá ter coberturas limitadas para reduzir o custo. Isto deve ser bem esclarecido e analisado pelo consumidor, para não ter surpresas no momento em que for utilizar o seguro.
Outra característica deste produto é a possibilidade do uso de peças usadas e, com isso, existe a questão de que este novo produto poderá fazer com que a segurança do veículo seja comprometida. Porém, a regulamentação irá limitar o uso dessas peças em funções relacionadas à segurança. Outro ponto a considerar é que os veículos que irão aderir a esta modalidade de seguro já se utilizam do mercado paralelo de peças usadas, cuja regulamentação, praticamente, inexiste.
Com um país com potencial estimado de 10 milhões de veículos para este segmento, a intenção, inicialmente, parece boa, porém, o novo formato de seguro deve vir embasado em leis bem estruturadas para que não haja brechas que coloquem a vida dos cidadãos em risco. Será que o Brasil, o país que sempre dá um jeitinho em tudo, está preparado?
Eduardo Meirelles* – Pós-graduado em engenharia de segurança pela UFRJ, Eduardo já participou da elaboração de normas técnicas relativas à proteção do meio ambiente pela ABNT, foi sócio diretor de uma empresa da área de logística. E atualmente ocupa a Gerencia de Pesquisas & Desenvolvimento da 3T Systems.