Por Iêda Maria Alves de Oliveira*
Os grandes municípios brasileiros vivem um ambiente propício para promover melhorias significativas no transporte público. As primeiras iniciativas para reverter o caos no trânsito já mostraram resultados positivos, como aponta pesquisa do Datafolha realizada em setembro na capital paulista.
O levantamento mostrou que 77% dos usuários de automóveis da cidade de São Paulo aprovaram a implantação dos 224 quilômetros de faixa exclusivas para ônibus. O governo municipal promete ainda colocar em operação 150 quilômetros de BRT (Bus Rapid Transit) até 2016, ao custo de R$ 6 bilhões.
Criado em 1979 em Curitiba, o BRT faz ainda grande sucesso em Bogotá, capital da Colômbia, onde transporta 45 mil pessoas hora/sentido e conta com 124 km de extensão.
Mais do que faixa exclusiva para ônibus, os sistemas de BRTs são estruturados em corredores segregados para ônibus, com estações em que o passageiro paga antes de entrar no veículo, tornando mais rápido o embarque e desembarque dos usuários. Para conquistar a aprovação da população, deve oferecer agilidade e qualidade similares às do metrô.
Uma das grandes vantagens dos BRTs em comparação com outros modais de transporte público é o seu custo. Enquanto o Metrô, por exemplo, tem altos custos em infraestrutura – que podem variar de US$ 100 a US$ 350 milhões por quilômetro, além de longos períodos para a construção – o BRT tem custos de investimentos que variam de US$ 0,5 milhões a US$ 15 milhões por quilômetro. Os dados fazem parte de uma pesquisa da rede C40 (Grupo Cidades Líderes pelo Clima) e da Fundação Clinton.
A preocupação com um transporte seguro e limpo também deve ser levada em consideração na implantação do BRT. Não podemos correr o risco de criarmos corredores de fumaça, prejudicando a saúde da população e degradando o entorno desses corredores.
O mercado já oferece diversas opções aos ônibus movidos exclusivamente a diesel. São Paulo tem como exemplo os trólebus; os novos modelos que circulam na capital paulista contam com um dispositivo para eventuais interrupções de energia, permitindo ao trólebus percorrer até sete quilômetros sem a necessidade da rede elétrica. Outras opções com etanol, biodiesel e diesel de cana-de-açúcar também já circulam na cidade.
O ônibus híbrido do tipo série, desponta como outra importante opção sustentável para o trânsito. Com tecnologia 100% nacional, ele dispõe de duas fontes de energia: o motor elétrico, responsável pela movimentação do veículo; e o motor diesel, que além de ser menor que o usado em um ônibus diesel similar, opera em rotação constante, o que reduz muito a emissão de poluentes, pois nas acelerações é o motor elétrico que atua.
Estabelecer políticas públicas e realizar alterações significativas no transporte coletivo representam um grande ato de coragem do administrador público, pois afeta diretamente a vida de milhões de cidadãos todos os dias. Mesmo que eventuais erros possam ocorrer nessas mudanças, a gestão pública precisa manter-se firme no propósito de construir um transporte público de qualidade. É hora de ousar e avançar.
(*) Iêda Maria Alves de Oliveira é gerente da Eletra, empresa brasileira pioneira em tecnologia para tração elétrica e híbrida para ônibus.