Os produtores de borracha natural e sintética devem ter muita, mas muita paciência nesse momento. Feliz ou infelizmente a crise internacional e questões pontuais estão no pano de fundo de uma definição de rumos para os preços, não apenas da borracha, mas de todas as chamadas commodities negociadas nos mercados globais.
Para se ter uma ideia de como estão as coisas neste momento basta ver que os preços das chamadas commodities ligadas a energia apresentam baixa de 17,5% no ano. As de petróleo, queda de 17,2%.
Outros preços de ativos tão interessantes e importantes como a borracha também andam de lado neste momento, como por exemplo, os preços do alumínio (-10,76%), do níquel (-12,78%) e até mesmo materiais nobres como a prata (-4,18%).
Produtores de algodão (-20,65%) e café (-32,13%) também pagam um pesado preço pelo atual momento conjuntural. Ou seja, não são apenas os produtores de borracha natural que encontram hoje um cenário muito difícil para negociação de preços de seus produtos, mas uma sorte muito grande de outros produtores.
Os rumos dos preços da borracha natural e também da sintética dependem, exclusivamente, dos sinais a serem emitidos pelas economias da Ásia, Estados Unidos, Brasil e América Latina.
Da Europa, infelizmente, não se pode esperar muita coisa na série desse e dos próximos dois anos – há quem aposte que a economia europeia só comece a apresentar sinais de revigoramento a partir de 2014. Portanto, do Velho Continente os sinais persistirão ruins.
Mas sejamos otimistas e vamos olhar um pouco mais para o nosso mercado:
1) A taxa de câmbio já subiu 8,24% este ano;
2) Os juros estão caindo e devem ceder ainda mais;
3) As montadoras de carros, mesmo com a queda do IPI, estão com algo entre 30 e 40 dias de estoques, ante 50 a 60 dias das empresas que produzem caminhões e ônibus;
4) As exportações de bens de valores agregados, como caminhões, ônibus, motores e câmbio, deram salto em maio, subindo 35% nas vendas de caminhões e 65,4% nas vendas de ônibus;
5) Um setor vital para o segmento de borracha natural e sintética, a indústria de pneus, teve o melhor maio desde 2001 nas exportações o que representa um demanda crescente pela compra do insumo para a confecção de mais e mais pneus;
6) Diagnóstico da Anfavea, a entidade que responde pelas empresas montadoras de veículos no Brasil, aponta que neste segundo semestre as vendas de veículos vão crescer, assim como a dinâmica de toda a economia brasileira.
Tudo isso representa um ponto futuro, de otimismo, de recuperação de preços e de margens de lucros, mas ainda está se consolidando, está em construção. É exatamente essa expectativa que acaba movendo os preços da borracha natural, da sintética e de todo o contexto de commodities citadas acima.
Hoje, quem tem dinheiro está com medo, observando aonde vai aplicar seus recursos, seja em aplicações financeiras, seja na formação de estoques e investimentos. No caso brasileiro, ainda estamos bem, obrigado!
Quer uma sinalização positiva para isso? A Continental, uma das maiores empresas produtoras de pneus do mundo, com fábrica no Polo de Camaçari, na Bahia, inaugura neste mês sua mais nova unidade no Brasil, a ContiRe, que nada mais é que uma empresa recapadora de pneus.
Ora, se o Brasil não estivesse com bons sinais a empresa alemã não iria fazer um investimento assim. E esse investimento tem a ver com o quê? Com borracha, ou seja, surge no horizonte brasileiro uma nova demanda por borracha natural e sintética.
Portanto, há sinais positivos no contexto da economia brasileira que estão dissociados de problemas como o da Tailândia, por exemplo. Lá, neste momento, o governo corre para comprar estoques de borracha dos produtores locais para tentar segurar um pouco mais a brutal queda de preços do insumo.
O Brasil, pelo contrário, tem uma oferta de borracha que está muito, mas muito aquém da real demanda das indústrias, apenas para citar aqui, as indústrias de pneus, francas compradoras do insumo.
Mas números são números e 1 + 1 = 2, não tem jeito. Pés no chão e lápis na mão os preços da borracha natural na Bolsa de Tóquio, a Tocom, são decrescentes na série de junho, julho, agosto, setembro, outubro e novembro.
O preço para um contrato de venda em novembro está hoje 3,99% abaixo do preço que é negociado para entrega em junho, o mês corrente.
Essa questão de preços em queda é fruto do que acontece hoje ao redor do mundo e os mercados futuros como o de Tóquio, de Chicago, de Nova York ou de Londres, sempre têm um defeito: eles vivem de espasmos.
Um dia é a crise da Grécia, no outro é a crise dos bancos na Espanha, e tudo isso trava a cabeça dos endinheirados do mundo. Mesmo que tudo esteja certo no mundo, haverá sempre uma boa crise em algum lugar do Afeganistão, do Oriente Médio, enfim.
Como reles mortais temos que administrar essas questões, abstrair as informações, avaliar o que tem e o que não tem pertinência e montar a nossa estratégia, e essa estratégia no Brasil sinaliza um caminho muito mais suave para quem produz borracha natural – e sintética – do que lá fora.
Outro sinal vindo de uma das maiores empresas do mundo, a Braskem, foi dado nesta semana.
A empresa antecipou a entrada em funcionamento de sua planta de butadieno junto ao Polo Petroquímico de Triunfo, no Rio Grande do Sul. O butadieno é a base para a produção de borracha sintética para aplicação industrial em produtos acabados, principalmente de pneus.
Ora direis. Se a coisa está realmente ruim, a Continental não apostaria sua nova fábrica de recapagem no Brasil e a Braskem não estaria antecipando o funcionamento de sua nova fábrica no sul do país, certo?
Dados da Braskem dão conta de que a demanda por butadieno cresceu 50% no ano passado e deve crescer mais 30% no Brasil neste ano.