A logística – que compreende a coleta e correta destinação de pneus velhos – e a conscientização ecológica dos gestores públicos e privados para a questão da reciclagem de pneus são dois dos principais entraves enfrentados pela Ecotires Soluções Ambientais, empresa de engenharia ambiental localizada em Faxinal do Soturno (RS), para a realização de seus trabalhos.
“Desde 2012 desenvolvemos soluções para o tratamento de resíduos através de tecnologias próprias voltadas a pneus inservíveis que abrangem 435 pontos de coleta no Rio Grande do Sul e Santa Catarina”, disse o diretor executivo da Ecotires, Sérgio Sodré, um dos participantes da audiência pública, realizada em 11 de julho, pela Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Câmara dos Deputados (CMADS), em Brasília (DF), evento que buscou identificar a situação das empresas que atuam na reciclagem de pneus no Brasil.
Segundo Sodré, os agentes ambientais da Ecotires visitam toda a cadeia que utiliza o pneu como produto e, a partir dessa ação, realizam um trabalho de conscientização ambiental.
“Georeferenciamos todos esses locais e identificamos os respectivos pontos de coleta, oferecendo para as prefeituras de todo o Rio Grande do Sul e Santa Catarina um trabalho de cadastramento feito através de um software desenvolvido por nós”, descreve.
Através desse sistema, a empresa faz uma radiografia completa aglutinando dados gerais como: localização, tamanho, capacidade de fornecimento de pneus e relata possíveis irregularidades que possam estar ocorrendo em cada um desses pontos.
Um dos objetivos disso é ajudar os agentes públicos na antecipação e prevenção de eventos como o ocorrido em Ernestina, cidade de 3.000 habitantes localizada ao Norte do Rio Grande do Sul.
Descobriu-se ali um depósito clandestino com mais de 140 mil pneus a céu aberto. A prefeitura local chegou a declarar estado de emergência e foram necessários mais de 40 dias para a retirada dos pneus em meio à vegetação.
Entre as informações relevantes prestadas pela Ecotires estão a quantidade e o tipo de pneus alojados em galpões, sua localização e movimentação, em um trabalho que envolve 435 pontos no Estado do Rio Grande do Sul – sendo 160 deles na região de Santa Maria (RS) -, e Santa Catarina.
“Nossa maior dificuldade é a logística. Cobrir as distâncias entre os pontos de coleta ao menor custo possível é um desafio diário, uma vez que só nessa operação pagamos 25% na forma de impostos. A segunda grande dificuldade é fazer com que os gestores públicos, borracheiros e até mesmo lojistas, façam a coleta dos pneus e sua correta destinação aos pontos de coleta”, diz.
Segundo o diretor executivo, mesmo com o trabalho de conscientização ambiental realizado pelos agentes ambientais da Ecotires, há borracheiros que não entregam pneus velhos porque acham que têm de entregar para a prefeitura.
“As prefeituras, muitas delas, pelas dificuldades financeiras que o país atravessa, não têm recursos para manter um galpão e pessoal para gestar esse passivo ambiental, então o pneu fica à céu aberto e os riscos de contaminação e proliferação da Dengue, Zika, Chikungunya se acentuam”, relata.
A Ecotires concede certificações de destino final para seus clientes, em consonância com as regras do IBAMA e, sem essas receitas, o equilíbrio financeiro da empresa seria mais difícil de ser atingido.
“Hoje dependemos muito da venda de crédito ambiental, caso contrário não fecharíamos as contas no final do mês”, disse.
Sodré considera o IBAMA como um grande parceiro da logística reversa realizada no Rio Grande do Sul e boa parte dos créditos gerados pela reciclagem dos pneus velhos são direcionados para programas sociais.
“Em parceria com a GPPneus, associada da ABIDIP, investimos parte desses recursos na construção de áreas de lazer em escolas de Faxinal do Soturno, como na EMEI Beija Flor, por exemplo”.
Entre os produtos gerados com pneus velhos, a Ecotires produz sucata de aço – a partir da retirada do aço existente nos talões dos pneus e negro de fumo que pode ser utilizado pela indústria de graxas para sapato, pigmentação e tonners para impressoras e copiadoras.
“Estamos lançando um novo produto que são pequenos pregos destinados para indústrias moveleiras. Esses pregos são feitos a partir do aço retirado dos talões dos pneus”, descreve Sodré, ao apontar a necessidade de criar produtos de maior valor agregado para compensar a forte carga tributária que incide sobre produtos reciclados.
“Em média, meu negócio é tributado em 38%. Só em energia elétrica pago 30% na forma de impostos, 43% quando transformo pneus velhos em negro de fumo, 32% em aço, e 43,3% quando faço chips de pneus destinados para substituição de coque em cimenteiras”, aponta