O segmento de caminhões encerrou o primeiro trimestre de 2017 com o melhor desempenho de vendas de exportação desde o primeiro trimestre de 2008. A geração de receitas oriunda do exterior entre janeiro, fevereiro e março deste ano somou US$ 5,844 bilhões, o que reflete aumento de 42,4% sobre o mesmo período do ano passado (US$ 4,104 bilhões).
Dentro da série dos últimos 10 anos – medida pela Anfavea – foi o terceiro melhor resultado para um primeiro trimestre, atrás apenas das exportações registradas em 2007 (US$ 7,353 bilhões) e 2008 (US$ 7,720 bilhões).
Com base no levantamento realizado pela Transportepress.com, esse foi o único bom resultado apresentado pelo segmento – com base nos últimos 10 anos.
Destaques
Os licenciamentos realizados nos três primeiros meses de 2017 são os mais baixos da série. Foram emplacadas e licenciadas 11.682 unidades ou 22,8% a menos que em igual trimestre de 2016.
- Comparado ao primeiro trimestre de 2015, o recuo é de 45,2% e de 47,1% a menos do que se vendia de caminhões há exatos 10 anos.
- As estatísticas relativas à produção não apresentam dinâmicas diferentes.
- A produção expressa pela Anfavea no primeiro trimestre de 2017 avançou 3,57% sobre igual período do ano passado: de 17.152 unidades para 17.765, porém os dois resultados são os piores dentro da série dos últimos 10 anos.
- A produção atual está 64,7% abaixo da registrada em 2011 – até então o pico de produção para uma base trimestral, com 50.352 unidades.
A Transportepress.com fez uma correlação entre os principais indicadores divulgados pela Anfavea (exportação, vendas e produção) e comparou os dados com a trajetória do Produto Interno Bruto (PIB), também dos últimos 10 anos.
Síntese:
Enquanto produção e vendas brigam no cotidiano do sobe e desce do nível de atividade, juros, câmbio, restrição de crédito, recuo do poder aquisitivo, e aquecimento de um setor aqui, outro ali, a curva de exportação é a que exibe um ritmo, senão mais equilibrado, um ritmo mais maduro e com vocação a vencer a recessão interna e a baixa demanda por transportes – principalmente nos setores industrial e serviços ante a uma demanda altíssima no setor agropecuário.
Em português claro: as exportações sobem porque o mercado interno está péssimo e para manter o chão de fábrica operacional as montadoras são obrigadas a enfrentar o setor externo de forma objetiva e pragmática.
É dessa forma que conseguem administrar melhor seus altos estoques, suas linhas de produção, e a geração de receitas em moeda forte, o que lhes permite um resultado operacional menos danoso.
Não é por mera coincidência que os indicadores de produção e vendas internas sejam os piores dos últimos 10 anos e exatamente o de exportação seja o melhor desde 2008. Isso é uma resposta direta às crises econômica, política, social, ética, moral e etc que assolam a realidade brasileira.
Mas há outra questão crítica que as montadoras – e todos os setores exportadores brasileiros padecem hoje – que a crise de identidade que varre a América do Sul e não apenas o Brasil – sendo a América do Sul um mercado de exploração econômica dos grandes grupos exportadores brasileiros.
Todos os relatórios de desempenho econômico e financeiro divulgados por empresas multinacionais referentes a 2016 e avaliados pela Transportepress.com apresentam desempenhos abaixo do esperado quando o assunto é América do Sul.
A Venezuela, por exemplo, está sendo apresentada como um mercado em fim de ciclo e fechamento de operações, com desmobilizações impactantes e assimilação de créditos de difícil liquidação pelas empresas que operam naquele mercado – ou com aquele mercado.
Há questões em curso de enfretamento político, econômico e social não apenas no Brasil, mas também no Paraguai, Argentina, Bolívia, Peru e um Mercosul que se mostra perdido no espaço.
Portanto, o Brasil é apenas um caso dentro de uma região que não atravessa seus melhores dias, o que explica muito bem os números e dados estatísticos da Anfavea: produção e vendas em baixa e exportações em alta.
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