A Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) não anda nada contente com o horário restrito para liberação de cargas nos aeroportos.
Em nota técnica divulgada nesta terça-feira, 02, a entidade defende o funcionamento 24h dos órgãos anuentes, responsáveis pela liberação de cargas nos aeroportos brasileiros, e a implantação de guichê único.
Atualmente, os órgãos funcionam apenas nos dias úteis e em horário comercial, ao contrário do que acontece nos principais aeroportos do mundo, impactando diretamente no tempo médio de liberação de cargas.
Segundo a Firjan com base em estimativas da Federação e do Sindicato de Despachantes Aduaneiros as medidas sugeridas podem reduzir em até 75% o tempo de liberação de cargas nos aeroportos.
“O funcionamento dos órgãos anuentes em horário comercial nos aeroportos acarreta custos enormes para a sociedade. Esses custos são repassados para os bens produzidos. Ou seja, quem paga a conta é o povo brasileiro”, disse em nota o presidente do Sistema FIRJAN, Eduardo Eugenio Gouvêa Viera.
Segundo o executivo, são 200 milhões de pessoas pagando medicamentos mais caros porque esses órgãos não funcionam nos terminais 24 horas por dia, sete dias por semana, como nos países mais eficientes.
“Para nossas empresas, que disputam mercados globais, esses gargalos na liberação dos produtos se traduzem em perda de competitividade. Estamos aqui chamando atenção para que as autoridades presentes nos aeroportos trabalhem conforme determina a lei”, disse.
Exemplo 1
Um dos exemplos citados em nota pela Firjan mostra que o prazo médio para liberação de uma tonelada de um produto farmacêutico movimentada em 2012 no aeroporto do Galeão/Tom Jobim, no Rio de Janeiro foi de 18 dias corridos, acima da média de 10 dias.
Os custos de armazenagem e movimentação, considerando o valor da carga de R$ 35 milhões, atingiram R$ 287,0 mil, aponta o estudo. Se a carga fosse movimentada no aeroporto de Heathrow, onde o tempo médio de liberação é de oito horas, este custo seria de R$ 17,8 mil.
Já no aeroporto de Singapura, onde a liberação ocorre, em média, em quatro horas, o custo seria de R$ 7,1 mil. Assim, a liberação da carga custa 16 vezes mais no Galeão/Tom Jobim do que em Heathrow e 40 vezes mais do que em Singapura.
Se o Brasil tivesse o mesmo tempo de liberação de carga que esses aeroportos, o custo no Galeão – Tom Jobim seria 59% mais barato que em Heathrow e 74% mais barato que em Singapura, destaca a nota técnica da Firjan.
Exemplo 2
Outro exemplo citado pela Firjan mostra que o valor agregado médio da carga aérea no Brasil é 5.000% mais alto que a média mundial.
“No Brasil, a movimentação de cargas do comércio exterior em 2012 foi de 688 milhões de toneladas, segundo o Ministério de Desenvolvimento Indústria e Comércio Exterior (MDIC), tendo atingido US$ 465,7 bilhões. Embora represente apenas 0,2% do total de cargas movimentadas, o setor aéreo respondeu por 10,7% do valor transacionado (US$ 50,0 bilhões). Assim, o valor agregado médio da carga aérea foi de US$ 36,9 mil/tonelada, superior, portanto, à média mundial, e mais de 5.000% acima da média global nacional de US$ 677,00/tonelada de carga movimentada no comércio exterior do país, quando considerados todos os meios de transporte”, destaca o estudo da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro.
Números do problema
1.O tempo médio de liberação de cargas em 2012 nos aeroportos de Guarulhos, Campinas, Galeão/Tom Jobim, Porto Alegre e Manaus, para os quais é elaborado o ranking de eficiência aeroportuária pela Infraero, foi de 175h01m, ou seja, pouco mais de uma semana. O tempo foi calculado do recebimento da carga até a sua efetiva entrega em horas corridas.
2.No aeroporto do Galeão/Tom Jobim, a liberação ocorre em média após 217h30m, ou seja, no 10º dia após a chegada da carga, enquanto em Shanghai, por exemplo, a liberação de cargas acontece em cerca de quatro horas após sua chegada; em Memphis, nos Estados Unidos, ocorre após seis horas; e em Heathrow, na Inglaterra – o mais lento dos aeroportos internacionais analisados – o processo demora oito horas.