O Brasil é importador líquido de borracha natural. Essa é a primeira conclusão básica de levantamento feito pela Transportepress.com para medir o desempenho do insumo na balança comercial brasileira.
A conclusão, na verdade, consolida o fato de o Brasil não ser autossuficiente na produção de borracha natural. A produção nacional não consegue atender a demanda interna, sendo, portanto, necessária a importação em larga escala do produto.
E de quanto é essa importação? Segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC), da ordem de 169.834.378 toneladas ao longo dos primeiros sete meses de 2017, ao preço médio (FOB) de US$ 2,5401/kg, pouco acima dos US$ 2,5086/kg alcançados pelas exportações brasileiras em igual período, de 1.125.246 toneladas.
Enquanto as exportações brasileiras de borracha natural – de US$ 2.822 milhões – apresentam queda de 27,19% em receitas e 14,66% em volume, na comparação com igual período do ano passado, as importações de US$ 431,4 milhões, registram alta de 35,91% em receitas e 9,89% em volume.
Em termos históricos, trata-se do pior resultado de exportações em borracha natural desde 2014 e o melhor em termos de importações desde 2015. O déficit comercial gerado pela importação líquida da matéria-prima atingiu US$ 428,6 milhões nos primeiros sete meses do ano, 36,69% superior ao registrado em igual período de 2016.
Dois destaques valem ser mencionados: o primeiro vem da China e serve para dar um parâmetro da demanda dos mercados brasileiro e chinês em termos de consumo. O governo chinês informa que apenas em julho, importou 199 mil toneladas. O Brasil importou em sete meses, 169 mil toneladas. Equivale dizer que o consumo interno chinês, em um único mês, é superior ao do Brasil em sete meses.
A China já importou neste ano, até julho, 1.447.000 toneladas de borracha natural.
O segundo destaque é que o Brasil teve, na série de 2010, 2011 e 2012, os melhores anos em termos de vendas de borracha natural ao exterior, sendo de 5,7; 5,4 e 8,3 toneladas respectivamente. Apenas em julho deste ano, a Tailândia forneceu para a China 116 mil toneladas do insumo.
O que o Brasil mais importa
O Brasil conta com um dos sete maiores parques automotivos do mundo e contabiliza, entre as empresas que fazem parte da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), 27 marcas diferentes.
Atraídas por esse parque automotivo, aqui estão as quatro maiores marcas produtoras de pneus do mundo, começando pela Bridgestone, a maior do mundo, Michelin (2ª), Goodyear (3ª) e Continental Pneus (4ª). As quatro têm bases produtivas no país, além da Pirelli, que tem no Brasil o maior número de fábricas da marca em todo o mundo. Também estão aqui a Dunlop, Titan (uma das mais expressivas em pneus agrícolas e de mineração), Maggion, Rinaldi e Tortuga.
Em termos de borracha natural, 70% a 80% da produção interna e, também, importações, se destinam para as fábricas de pneumáticos e o maior volume importado no insumo é a borracha natural tecnicamente especificada – TSNR.
De janeiro a julho o Brasil importou US$ 139,4 milhões na forma de 71.940.410 quilos dessa borracha, pagando US$ 1,9384 FOB por quilo. O segundo insumo mais importado foi a borracha natural granulada ou prensada: US$ 35,5 milhões – 17.862.969 quilos a US$ 1,9878 FOB/Kg.
Igualmente exportou mais nas duas modalidades de produtos, sendo US$ 1,68 milhão em TSNR (632.674 quilos a US$ 2,6518 FOB/Kg) e US$ 1,1 milhão em borracha natural granulada ou prensada – equivalentes a 487.100 quilos por US$ 2,2713 FOB/Kg.
A diferença básica aqui se concentra em duas situações: a primeira, a diferença entre os volumes importados e exportados. A segunda, que o valor agregado da borracha natural brasileira é 36,80% maior na TSNR e 14,26% maior na granulada ou prensada – o que derruba a tese de que a borracha natural brasileira é de baixa qualidade.
NCMs* utilizadas nos levantamentos de dados
40011000 | Látex de borracha natural, mesmo pre vulcanizado |
40012100 | Borracha natural em folhas fumadas |
40012200 | Borracha natural tecnicamente especificada (TSNR), em outras formas |
40012910 | Borracha natural crepada |
40012920 | Borracha natural granulada ou prensada |
40012990 | Borracha natural em outras formas |
40013000 | Batata, gutapercha, guaiúle e gomas naturais análogas |
NCM = Nomenclatura Comum do Mercosul – foi adotado em 1995 pela Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai e tem como base o SH (Sistema Harmonizado de Designação e Codificação de Mercadorias). A classificação fiscal de mercadorias é de competência da SRF (Secretaria da Receita Federal)