O mercado brasileiro de pneus assiste hoje a um franco processo de brusca desaceleração das importações – ao mesmo tempo em que as receitas líquidas de exportação atingem os maiores valores históricos para o setor na série dos últimos seis anos.
De janeiro a outubro de 2016, as importações desabaram 33,6% comparativamente ao mesmo período do ano passado, somando US$ 537 milhões contra US$ 809,2 milhões no acumulado de janeiro e outubro de 2015.
Trata-se do menor volume de compras dos últimos seis anos, representando queda de 53,7% sobre o mesmo período de 2014 e de 61% sobre o mesmo período de 2013.
Por outro lado, o saldo líquido gerado pelas exportações – de US$ 951,9 milhões no período, menos as importações (US$ 537,0 milhões) – redundou no maior superávit comercial do setor desde 2011, de US$ 414,8 milhões, ou 400,8% superior ao mesmo período do ano passado.
Alguns fatores explicam o excelente desempenho das exportações – que abrangem um total de 150 países ao redor do mundo. Um deles pode ser expresso pela expansão de 22% nas exportações de veículos de passeio (312.124 unidades), de 12,6% em comerciais leves (63.514 unidades) e de 34,9% em ônibus (8.051 unidades), segundo dados apurados pela Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (ANFAVEA) no acumulado de janeiro a outubro de 2016.
Entre os grandes destaques das exportações estão às vendas destinadas para os Estados Unidos, o segundo maior mercado automotivo do mundo e segundo maior importador de pneus do Brasil, cujas vendas cresceram 32,1% nos primeiros 10 meses do ano.
Para o Japão, o crescimento foi de 99,5%, Tailândia (+187,7%), Indonésia (+43,2%), África do Sul (+22,6%), México (+17,9%) e Canadá (+15,6%). Para a Argentina, o maior comprador individual de pneus brasileiros, as exportações cresceram 7,24%, com vendas de US$ 249,5 milhões e compras de US$ 100,4 milhões.
“Todos os pneus importados pelo Brasil oriundos de mercados da Ásia apresentam quedas substanciais em 2016”, afirma o diretor presidente da Associação Brasileira dos Importadores e Distribuidores de Pneus (ABIDIP), Milton Favaro Junior.
“Temos recuos de 83,1% nas importações oriundas da Índia, de 62,8% do Japão, de 56,1% da Tailândia, 32,1% da Indonésia, 38% menos da Coréia do Sul e 20,9% menos do Vietnã”, relata.
“Da China, sempre vista como o “grande vilão” pela indústria nacional, as importações caíram 25,05% no acumulado de 2016, comparativamente ao mesmo período do ano passado e representam menos da metade de pneus chineses importados em 2013”, afirma.
Neste ano, foram importados US$ 152,8 milhões em pneus chineses, ante US$ 203,9 milhões no mesmo período do ano passado. Em 2013, nessa mesma época do ano, as importações chinesas somavam US$ 309,2 milhões.
“É o pior desempenho já registrado pelas importações de pneus da China na série dos últimos seis anos, assim como também são as importações da Coréia do Sul, Índia e Indonésia”, destaca o diretor presidente da ABIDIP.
Quem importa e de onde
“Uma coisa que o consumidor brasileiro desconhece é que a indústria de pneus e as montadoras de veículos são as maiores importadoras de pneus do País. De janeiro a outubro a indústria local responde por mais de 50% das compras de pneus de carga e mais de 30% em pneus de passeio, comerciais leves e SUVs”, diz Milton Favaro Junior.
Fato curioso é que a defesa comercial do Brasil aplica tarifas punitivas por dumping em pneus de carga oriundos da África do Sul, Coréia do Sul, Japão, Rússia, Tailândia e Taiwan. Em pneus de passeio, tarifa as importações da China, Coréia do Sul, Tailândia, Taiwan e Ucrânia. “Interessante que boa parte dos pneus importados pela indústria não são oriundos desses mercados”, lembra.
Segundo Milton Favaro Junior, o Brasil é o segundo país do mundo que mais pratica medidas protecionistas e, no caso de pneus, é recordista mundial. “Temos países que simplesmente deixaram de vender ao Brasil por força dessas medidas, como a Ucrânia”, ressalta.
Países onde a indústria tem subsidiárias não sofrem por dumping e, em um caso específico, o Japão, se estabelecem acordos para importações a preços diferenciados – sob alegação de “transfer price” para subsidiárias brasileiras. “Não é de surpreender, pois esse tipo de estratégia é típica de multinacionais que se instalam no Brasil e tentam transformar o mercado em oligopólio”, afirma.
O diretor presidente da ABIDIP aposta em reação mais madura do mercado de pneus em 2017 e ressalta que o setor de importação é franco gerador de receitas e empregos, com mais de 100 mil postos de trabalho (diretos e indiretos) no Brasil. “As importações feitas por importadores independentes pagam Imposto de Importação (II) -, que é receita direta ao caixa do Governo, e muitas importações feitas pela indústria local têm acordos entre países e não pagam o Imposto de Importação. Ou seja, não trazem nada ao Governo, enquanto a importação feita pelos independentes são mais rentáveis aos cofres públicos”.