De janeiro a setembro de 2016, as importações de pneus de carga (usados para equipar caminhões e ônibus), apresentaram o pior resultado dos últimos 10 anos, cedendo 64% na comparação com janeiro a setembro de 2015.
O valor total das importações foi de apenas US$ 67,8 milhões, contra US$ 188,2 milhões no mesmo período de 2015. Se as importações sofreram forte baixa, as exportações em alta geraram o segundo maior superávit comercial dos últimos 10 anos, de US$ 204 milhões, inferior apenas ao apurado em 2007, de US$ 283,3 milhões, como apontam dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) e Secretaria da Receita Federal.
“Entre os 19 principais mercados que originam vendas de pneus ao Brasil, apenas as importações da Argentina registraram aumento e bem significativo, de 181,93%, em sua totalidade realizados por indústrias e suas filiais instaladas no país vizinho e no Brasil”, diz Milton Favaro Junior, diretor presidente da Associação Brasileira dos Importadores e Distribuidores de Pneus (ABIDIP).
“Importações originadas no Japão e Reino Unido, por exemplo, foram zeradas. Ou seja, a indústria nacional, as montadoras de veículos locais e, mesmo os importadores independentes, não trouxeram uma única unidade desses mercados em 2016”, ressalta.
Milton Favaro destaca ainda que o Brasil também reduziu em 98% as compras de pneus da Polônia, em 95% do México, em 94% dos Estados Unidos e até da grande vilã, a China, as importações caíram 55,9%, sendo recuo de 42% da Coréia do Sul.
O substancial recuo das importações ocorreu mesmo com a súbita valorização do real frente ao dólar, de 14,74% no período. A valorização da moeda é vantajosa para quem importa, ao contrário de sua desvalorização, que beneficia o exportador.
“Mesmo diante dessa melhora das cotações para quem importa, as importações de pneus de carga atingiram o menor nível em 10 anos e estão impactadas diretamente pelo quadro recessivo que afeta o desempenho da atividade econômica – que por sua vez se reflete sobre uma baixa demanda por equipamentos originais (pneus vendidos diretamente para as montadoras) e de reposição (pneus vendidos diretamente para os consumidores)”, afirma o executivo.
“Para quem acha que as importações de pneus de carga feitas pelos importadores independentes subiram, ledo engano: elas caíram 47,41% no acumulado de janeiro a setembro, para apenas US$ 52,4 milhões”, aponta.
Como segmento dependente e satélite dos setores automotivo (produtores de veículos) e de transportes de mercadorias e de pessoas (empresas transportadoras e frotistas), o segmento de pneus depende do bom desempenho desses setores, mas o que aconteceu? Basta ver os números cadentes de vendas e de produção apurados pela Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea).
Nas exportações de veículos de carga e de transporte de pessoas, a Anfavea identifica quatro segmentos com resultados positivos. Em caminhões as exportações apresentam altas de 22,6% para caminhões leves e de 8,7% para caminhões pesados, com a média do segmento apresentando recuo geral de 0,7% nos primeiros 10 meses do ano.
Já em ônibus, as exportações apresentam altas de 62,1% para urbanos e de 4,2% para rodoviários, com média de crescimento de 33,8% no período.
O impacto no segmento OE
Os números apresentados pela indústria automotiva têm forte impacto sobre o segmento de equipamentos originais, o segmento OE (quando as empresas que produzem ou importam pneus o fazem diretamente para as linhas de produção das montadoras de veículos).
O outro segmento que também não vai bem é o de reposição. No caso dos pneus de carga, se vê agravado por indicadores como a Pesquisa Mensal de Serviços (PMS) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que aponta perdas de 12,1% nas receitas líquidas das empresas de transportes até setembro de 2016.
“Tais perdas, aponta o próprio IBGE, foram agravadas pela recessão, alta da inflação, elevação da carga tributária, da taxa de juros e, incluímos aqui o aumento do preço de pneus pela indústria local”, aponta Milton Favaro Junior.
Isso pode ser constatado em levantamento realizado pelo Departamento de Custos Operacionais da Associação Nacional do Transporte de Cargas e Logística (Decope / NTC&Logística) – junto ao Índice Nacional da Variação de Custos do Transporte Rodoviário de Cargas Fracionadas (INCTF) de setembro, que mostra aumento de 6,78% no preço de pneus e de 3,40% no de recapagem de pneus.
“Levantamento realizado pela ABIDIP junto a transportadores e frotistas do Estado de São Paulo revela que os preços praticados pelas quatro grandes empresas produtoras de pneus do país variaram entre a mínima de 2,30% para o pneu 275/70R22,5 Portador* (*pneu direcional para uso exclusivo em carretas) e a máxima de 18,59% para o pneu 385/65R22,5 Liso Single”, diz o executivo da ABIDIP.
Os preços se referem ao período de janeiro a julho de 2016 e mostram que apenas três aumentos ficaram abaixo da inflação oficial medida pelo IPCA no período, de 5,51%. Outros 17 reajustes ficaram acima do indicador, o que reflete aumentos reais, acima da inflação.
“Ou seja, as exportações de pneus de carga subiram 2,64%, as importações caíram 64%, o superávit comercial foi o segundo maior dos últimos 10 anos e ainda assim a indústria aumentou os preços internos de seus pneus aos consumidores finais, em termos reais”, diz Milton Favaro.
Reciclagem de pneus
Na questão da reciclagem, os 45 importadores associados à ABIDIP estão fazendo a lição de casa. Em 2015, atingiram 100% da meta de coleta e correta destinação de pneus inservíveis definida em legislação pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA).
A ABIDIP é hoje a principal referência e maior patrocinadora de ações voltadas à transformação de pneus inservíveis em pó de borracha para uso em asfalto-borracha e também desenvolve aplicações voltadas à produção de pisos, vasos, lombadas, cones de sinalização e óleo e gás para geração de energia.
No Paraná, desenvolve junto a parceiros como a Greca Asfaltos (a maior produtora de asfalto-borracha do país) e a Strasse Reciclagem de Pneus, um trabalho de ressocialização de presos, junto à Colônia Penal Agrícola de Piraquara (PR). Através de convênio com o Departamento Penitenciário do Paraná – que autorizou a montagem de uma usina de processamento de pneus dentro da colônia penal -, reeducandos fazem a transformação do pneu em pó de borracha.
Ali, são treinados, cumprem horários e regras e são remunerados com 75% do valor de um salário mínimo que se destina a assistência à família, pequenas despesas pessoais e a indenizar danos causados pelo crime. A cada três dias de trabalho abatem um de pena.