Com ou sem crise global, a Continental AG vem se constituindo em case corporativo e uma das empresas a serem ‘seguidas’ pelos concorrentes.
Sistemista automotiva completa, o grupo teve em 2012 números de desempenho superlativos, com vendas de € 32,7 bilhões de euros, um lucro líquido 48,5% maior ao apresentado no ano anterior (de € 1,967 bilhão), e foi campeã de desempenho em Bolsa de Valores, contribuindo positivamente com retorno de 82,1% em termos de valorização de suas ações. Vale dizer que em 2012, nenhum ativo negociado em bolsa, seja do setor automotivo e de pneumáticos, deu tanto retorno que os ganhos propiciados pelas ações da empresa alemã.
E neste ano, como as coisas estão se processando? Vai dar para repetir o desempenho do ano passado? Como a Continental está se posicionando no mercado brasileiro e como se desenham os planos estratégicos para equipamentos originais por aqui?
Em termos de Bolsas de Valores, as ações da Continental apresentavam valorização de 55,5% entre 31 de dezembro de 2012 e 25 de outubro de 2013, comportamento inferior apenas aos apresentados pelas ações da Toyo (+136,7%) e Goodyear (+60,8%).
Boa parte dessas perguntas e demais questões foram respondidas em cerca de duas horas de entrevista com o vice-presidente para equipamentos originais da divisão de pneus de caminhões da Continental AG, Peter Matzke – durante a Fenatran, o maior salão do transporte da América Latina e o terceiro maior do mundo.
“A Continental deve fechar o ano com vendas totais de € 32 bilhões e 170 mil colaboradores”, disse Matzke ao apontar a expressiva evolução dos resultados conquistados pela companhia ao longo dos últimos 10 anos. “Saímos de uma empresa dedicada apenas à produção de pneus e nos transformamos em um dos maiores fornecedores sistemistas do setor automotivo do mundo”, disse.
Verificando os dados apontados por Matzke junto à base de dados da Transportepress.com, nos deparamos com os resultados já consolidados pelo grupo no primeiro semestre deste ano e ele mostra que metade do caminho para se atingir as receitas de vendas projetadas pelo executivo, de € 32 bilhões, já foi alcançada.
A Continental já faturou no período de janeiro a junho a soma de € 16.574,3 bilhões, um resultado que reflete expansão de 0,4% sobre o alcançado no primeiro semestre do ano anterior. Caso repita esse desempenho ao longo deste segundo semestre, as receitas superarão a casa dos € 33 bilhões, portanto, dentro dos prognósticos alinhavados por Matzke.
Detalhe: os dados de balanço do terceiro trimestre fiscal saem dia 07 de novembro e podem referendar esses dados apontados pelo executivo que chamou a atenção para o faturamento relativo à divisão de pneus: fechou 2012 em € 9,7 bilhões e está na faixa de € 6,5 bilhões de euros nos primeiros seis meses de 2013, o que representa 39,4% de participação do total de receitas do grupo no período.
Segundo Matzke, boa parte dos resultados que o Grupo Continental vem conquistando se devem à forte presença da marca na Europa e na América do Norte. “Mas consideramos de grande importância dois mercados potenciais e nos quais estamos nos dando muito bem: os localizados na Ásia e os mercados que compõem os BRICs”, apontou ele ao destacar de forma simples, objetiva e direta, que: “no Brasil ainda não estamos onde desejamos estar”.
“Em termos de pneus somos uma empresa ainda muito jovem no Brasil. Entramos aqui em 2006 com o objetivo de ser uma base exportadora e nos deparamos com um mercado em franca demanda interna, fato que mudou um pouco os planos originais e por isso passamos, também, a suprir o mercado interno com nossos produtos originais e de reposição”, relatou.
Em termos de BRICs (Brasil, Rússia, Índia e China), o vice-presidente da Continental para equipamentos originais da divisão de pneus de caminhões, ressalta a importância do mercado chinês, o maior do mundo para pneus e equipamentos automotivos e as parcerias firmadas com empresas locais na Rússia e na Índia, onde são produzidos produtos com tecnologia Continental.
“Em 2012 o mercado chinês apresentou ligeira baixa, mas as expectativas para este ano são de crescimento. Na Europa, a volatilidade reinante em 2012 persiste, mas se considerarmos o impacto da entrada dos caminhões com a tecnologia Euro 6, os sinais apontam para um processo de alavancagem de vendas. Mesmo assim as incertezas persistem, mas a sensação ante esse movimento de antecipação de compras (por transportadores e frotistas) dá a sensação de um fim de ano melhor que o esperado”, disse.
Em relação ao Brasil, Peter Matzke chama a atenção para a volatilidade do mercado automotivo e, porque não, da economia brasileira na série dos últimos anos. “Um dos maiores desafios aqui é a volatilidade muito intensa do mercado local (automotivo, principalmente). O mercado oscila, ora para cima, ora para baixo, de forma muito intensa e isso acaba por se refletir na cadeia de fornecimento de partes e peças junto aos clientes automotivos que, ora demandam muito, ora demandam pouco, fato que atrapalha o planejamento da produção, por exemplo”, constata.
A observação de Matzke tem pertinência e lembrou-me um posicionamento feito pelo então presidente da General Motors do Brasil, George Richard "Rick" Wagoner Jr (Rick Wagoner), quando o entrevistei em finais da década de 90, momento em que o Brasil vivia um processo hiperinflacionário e as grandes corporações globais com atuação no Brasil enviavam seus jovens e promissores executivos para ‘aprender’, na prática, os então ensaios econômicos ensinados nos bancos universitários, de como proceder em situações de estresse financeiro e econômico. Wagoner foi um desses casos. Após o aprendizado no Brasil, foi transferido para os Estados Unido e virou presidente e CEO da poderosa General Motors Corporation (GMC).
Resguardados os momentos econômicos e desde o advento do Plano Real a economia nacional evoluiu muito, mas continua apresentando quadros constantes de stop and go, de intensa volatilidade, de efeitos gangorras típicos de nações emergentes que buscam a consolidação de seus quadros micro e macroeconômicos, mas a percepção de Matzke é pertinente e mostra que para executivos ‘estrangeiros’, o Brasil continua sendo um desafio ante mercados mais maduros e consolidados, o que referenda um quadro de que por aqui, ainda precisamos fazer boa parte da lição de cada.
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