“A Michelin é a única empresa produtora de pneus do Brasil, que atua naquilo que chamamos de economia circular. Ela vai da plantação da seringueira (pesquisa e processamento da borracha natural) até o pneu reciclado”.
A frase é do presidente da Michelin América do Sul, Nour Bouhassoun e foi feita no último dia 13, em São Paulo, durante apresentação oficial do novo pneu Michelin X Incity Z, para aplicação em ônibus urbanos e do Frota Certa, serviço de gestão voltado para empresas de transportes que objetiva reduzir gastos com pneus e combustíveis.
Dentro dessa cadeia de produção mantida pela Michelin no Brasil estão empresas produtoras de pneus de carga (ônibus, caminhões), veículos de passeio, motocicletas, mineração, construção civil e agrícolas, de fios de aço (para uso na confecção de pneus), de bandas de rodagem voltadas à recapagem de pneus (Recamic) e duas empresas de processamento de látex, uma em Vitória (ES) e outra na Bahia), cujos insumos são usados na construção de produtos e pneus Michelin no Brasil.
Os trabalhos de coleta e correta destinação de pneus inservíveis da Michelin é feito através da Reciclanip, braço sustentável da Associação Nacional da Indústria de Pneumáticos (ANIP).
“Estamos com presença comercial no Brasil desde 1927 e continuamos acreditando nesse país. A situação atual, essa crise política e econômica é sim muito complicada. Mais de 14 milhões de desempregados, uma taxa de investimento equivalente a 15% do PIB, algo que equivale aos países africanos, são condições que não se apresentavam nas últimas décadas”, disse.
“Estamos investindo no Brasil. O Brasil é importante e essa estória vai acabar. A democracia é muito forte e as discussões atuais são para tornar a democracia mais forte ainda”, disse.
O mais provável investimento que a empresa pretende consolidar é a produção de pneus para veículos de duas rodas, através de sua mais recente aquisição, a Levorin, que conta com fábricas em Guarulhos (SP) e Manaus (AM). “Em plena crise, investimos na produção de pneus agrícolas no ano passado, no mesmo momento em que adquirimos a Levorin”, disse.
‘Acreditamos fazendo’
O presidente da Michelin América do Sul, Nour Bouhassoun pontuou um dos projetos mais emblemáticos que a Michelin executa no Brasil: a Fazenda Ouro Verde, localizada na região de Igrapiúna, na Bahia, e que reúne uma das unidades de processamento de borracha natural da empresa no Brasil – sendo a segunda unidade instalada na cidade de Sooretama, no Espírito Santo.
“Essa é uma atividade que nos dá muito orgulho”, disse. “A seringueira no Brasil tem o que chamamos de ‘mal da folha’, um fungo que se aloja na folha e reduz a produtividade da planta. Desde que adquirimos essa fazenda (ela pertencia à Firestone do Brasil), que procuramos reverter esse processo”, disse.
Entre as soluções encontradas pela Michelin está a construção de um laboratório composto por estudiosos, cientistas e profissionais de todo o mundo que se buscam pela geração de clones resistentes às pragas que afetam a hevea brasilienses, a seringueira.
“Da fazenda, ficamos com uma parte e vendemos outra para 12 funcionários. Não apenas compramos 100% da produção deles, como vendemos nossos clones à comunidade local e promovemos, em parceria, modelos de gestão e plantação, além de créditos e financiamentos para aquisição dos clones”, descreveu.
“Como o ciclo da seringueira é de sete anos até o início da produção, ajudamos os produtores locais com técnicas de plantação e cultivos alternativos, como o cacau, que rende após três anos, e a banana, que rende já em 12 meses. Ou seja, o produtor local pode ter a renda de dois cultivos diferentes até que possa vender seu látex, 100% comprado pela Michelin”.
Segundo Nour Bouhassoun, o projeto abrange hoje 1.300 famílias. Na mesma fazenda cerca de 3 mil hectares foram reservados para preservação e recuperação da fauna e da flora da Mata Atlântica.
“Essa área hoje é considerada a Mata Atlântica melhor preservada no Brasil, com o advento de novas espécies de animais e plantas que são estudadas por pesquisadores de todo o mundo. Recebemos no local a visita de mais de 60 mil pessoas por ano”, disse.
Nota do Editor: em 2013 fui convidado pela Michelin para conhecer o projeto da Fazenda Ouro Verde. Passados quatro anos, o presidente da Michelin América do Sul, Nour Bouhassoun, toca no tema durante entrevista à diversos jornalistas presentes em São Paulo. Posso dizer que sua descrição reflete exatamente tudo o que pude ver e constatar no local, cujas descrições podem ser vistas nos links abaixo.
A Fazenda Ouro Verde é, sem dúvida, um dos projetos mais emblemáticos para o contexto da heveicultura nacional e deveria ser adotado como referência pelos meios político, científico e heveicultor, de como fazer, de como proceder e de como atingir resultados respeitando o meio ambiente, a comunidade local e gerando renda para uma cadeia que começa na borracha e termina na reciclagem.
Como disse o presidente da Michelin América do Sul, Nour Bouhassoun, ‘acreditamos fazendo’. O que vi na Fazenda Ouro Verde me permite dizer: é verdade. Parabéns, Michelin!
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