Os preços da borracha natural estão nos mais altos patamares dos últimos 5 anos, apontam agências de notícias asiáticas que assistem a um movimento contínuo de reajustes de preços reportados pelas principais empresas produtoras de pneus da China e do Japão – um movimento que deve bater no bolso das empresas brasileiras – e dos consumidores rapidamente.
Entre os motivos de aumentos superlativos da borracha natural há questões relativas à natureza em si, como de recuperação do mercado automotivo chinês, o maior do mundo, mas também prescinde da ação de especuladores com forte cacife em commodities.
Vamos aos fatos naturais: os maiores produtores globais de borracha natural estão no Sudeste da Ásia, entre eles a Tailândia que vem sofrendo com inundações de suas áreas produtivas, Segundo o governo local, a quebra da ‘safra’ pode acarretar um corte de 7,6% na produção total do país. Só esse fato já altera o denominador demanda e oferta entre os principais consumidores do insumo, a indústria de pneus.
Há ainda, por efeito sazonal, o período de secas que toma conta das demais regiões produtoras do insumo, como a própria Tailândia, Malásia e Indonésia. A estação de inverno (seca), vai de fevereiro a maio e analistas de mercado preveem uma pressão ainda mais acentuada para os preços da borracha natural entre março e abril.
Na Índia, por exemplo, o governo local anuncia a disposição de ampliar a produção através de incentivos aos produtores locais. A meta seria elevar a produção do insumo em 15% no biênio 2017/18, porém, o efeito dos preços altos ocorre agora, sem que as zonas produtoras consigam estabilizar o surto de alta.
Razões econômicas
No âmbito conjuntural, os industriais asiáticos, principalmente os chineses, estão operando sob perspectivas muito otimistas. Primeiro com a própria economia da China: Pequim adotou recentemente programas de incentivo para impulsionar a indústria automotiva para carros menores, mais econômicos e enquadrados em quesitos ecológicos – que também passam por pneus ‘verdes’.
Além disso, há mudanças importantes na fixação de regras de capacidade de transporte em caminhões de carga, fato que levará a um aumento na aquisição de mais caminhões e de mais pneus.
Estamos falando da maior indústria automotiva do mundo, de uma economia em larga escala e a pergunta dos analistas é se a oferta de insumos se adequa a essa súbita demanda. Os preços da borracha natural estão dizendo que não, tanto assim que esse fato está levando a um surto de aumentos de preços ao redor da Ásia (China, Japão e Coreia do Sul).
A Bridgestone já alertou que pode elevar seus preços e segundo seu porta-voz, Fusamaro Iijima, as decisões serão tomadas após considerar as condições de mercado, incluindo o movimento da concorrência.
Razões especulativas
A terceira grande onda por trás do movimento de alta dos preços da borracha natural é a especulação. Há quem veja no surto de aumento do insumo junto ao mercado futuro da borracha natural negociada na Tocom (Tokyo Commodity Exchange), a presença de especuladores chineses junto à formação de estoques voltados ao esperado crescimento do mercado automotivo chinês.
A Tokyo Commodity Exchange é o centro de referência para a formação dos preços da borracha natural no mundo e eles, os preços, já subiram ao mais alto patamar dos últimos cinco anos. Em janeiro, a alta foi de 26%, ou o maior salto mensal desde 1990. Nos últimos quatro meses, a alta já superou os 100%.
Analistas veem nesse movimento a presença de grandes especuladores chineses, que já fizeram o mesmo com outras commodities como carvão de coque e minério de ferro.
Com a palavra a Tocom
Na última semana, o presidente da Tocom, Takamichi Hamad, disse em coletiva à imprensa que a Bolsa não tem intenções de tornar mais rígidos os regulamentos ou normativos de negociação do mercado futuro de borracha. A Bolsa não encontrou até agora indícios de participantes irregulares ou de negociações irregulares. Todos os corretores membros da Bolsa foram submetidos a detalhar suas operações com futuros de borracha natural e nenhuma irregularidade foi encontrada, disse Takamichi Hamad.
Razões de fato
Entrevistas dadas por revendedores de pneus chineses – ou seja, o varejão de pneus da China – se dividem entre o pessimismo e o otimismo neste momento, apontam agências internacionais asiáticas.
Entre os pessimistas há a questão de que apenas o mercado de equipamentos originais de pneus vai bem, enquanto o de reposição patina.
Outro aspecto é que as regras mais rígidas em termos ambientais que o governo está impondo ao setor automotivo tem levado a uma menor demanda por pneus.
Algumas fábricas estão simplesmente fechando as portas, ou cancelando contratos estabelecidos a preços anteriores aos aumentos da borracha natural, ressalta um desses revendedores chineses: “senão fizerem isso quebram.”
No segmento de pneus de carga, outro revendedor atesta que apesar dos preços (dos pneus) estarem em alta, não há ambiente para praticá-los: “não nos atrevemos a elevar muito o preço, pois o mercado não aceita”, diz.
Transportepress.com com agências internacionais