Os produtores de borracha natural tiveram um bom momento nesta primeira quinzena de julho. Todos os contratos em negociação abertos na Tokyo Commodity Exchange – a bolsa de futuros do Japão – registraram altas no mês (incluindo a sessão do dia 17 de julho).
Os contratos com melhor desempenho foram os para entrega de borracha natural em novembro próximo. Eles apresentaram valorização de 4,07% no mês, ao preço de 248,2 ienes por quilograma, ante 238,5 ienes por quilograma em 29 de julho passado.
Outras posições com boas altas se deram sobre os contratos para entrega de borracha natural em dezembro (+3,82%) e outubro (+3,75%). Nos dois casos, o preço de encerramento foi de 249,7 ienes por quilograma e 246,5 ienes por quilograma, respectivamente.
Para quem tem posições para negociação em curtíssimo prazo, o melhor momento para a entrega do insumo é agosto, período em que os preços apresentam elevação de 2,98%, a 242,0 ienes por quilograma, seguido pelos contratos de setembro, que apresentam alta de 2,43% a 244,0 ienes por quilograma.
As operações para entrega em julho fecharam a primeira quinzena em alta de 1,99% ao preço de 240,4 ienes por quilograma.
Todo cuidado é pouco
Apesar do quadro de melhora geral de negociação do insumo em Tóquio, os preços da borracha natural ainda estão bem baixos. Os atuais preços espelham a mesma realidade encontrada entre 2009 e 2010.
A melhora de desempenho dos preços, no entanto, deve ser vista com cuidado, uma vez que os dados financeiros apresentados pelas economias mais desenvolvidas do mundo ainda se mostram muito incipientes, notadamente os da Europa e China, com um mercado norte-americano buscando um rumo político e econômico dentro do contexto de disputa das eleições à presidência.
Vale destacar que a safra de novos balanços corporativos relativos à performance do primeiro semestre está para se iniciar e com certeza se terá uma ideia do tamanho da crise na Europa e os efeitos do baixo desempenho econômica da China nos números a serem apresentados pelas grandes corporações – antevendo-se fortes medidas de correção de rumos a partir deles.
Por enquanto, no mundo dos pneus – uma das indústrias que mais demandam a borracha natural – há aspectos positivos e negativos. Entre os positivos há segmentos de mercado indo muito bem obrigado, como o de OTR, pneus premium, agrícolas, motos e bikes, assim como o segmento de recapagem. Corrobora a ajuda nesse sentido o bom andamento do mundo da mineração ao redor do mundo, ou de amplos projetos de infraestrutura, como aqui no Brasil – que passam pelas obras ainda lentas para a Copa do Mundo e Olimpíadas.
Mas há também nichos específicos de mercado que podem ou já estão se ressentindo mais fortemente de ações como o encerramento de operações em fábricas na França, pelo Grupo PSA Peugeot Citröen, por exemplo.
Nesse momento, há um choque de demanda negativo, motivado pela crise que vence em demasia a oferta retesada de borracha natural em mãos dos produtores nacionais e globais.
O fato de economias como as da Europa e China estarem patinando faz com que haja uma reprogramação da produção de pneus para baixo, por exemplo, e isso acarreta um estancamento das negociações e súbito aumento de estoques no campo dos insumos ligados à borracha natural.
O importante neste momento é ficar atento aos principais indicadores econômicos a serem divulgados ao longo do mês – por governos e empresas – e tomar cuidado com a variação da cesta de moedas, uma vez que a briga entre dólar e euro ainda vai longe – e uma diferenciação mínima entre moedas pode representar o bem ou o mal na contabilidade dos número de balanço.
No Brasil, especificamente, as medidas anticíclicas adotadas pelo governo continuam em franco processo de gestação. A nova queda de juros feita pelo Comitê de Política Monetária do Banco Central é uma delas, mas seus efeitos tendem a ser efetivamente sentidos em médio prazo – o que demanda uma certa paciência para a obtenção de resultados mais imediatos.
Há em curso uma brutal operação para o financiamento da nova safra agrícola, com aumento de linhas de crédito e financiamento, bem como ações orquestradas pelo BNDES no campo das liberações de recursos para máquinas, equipamentos e até mesmo fomento à produção e investimento, como a liberação recente de R$ 342 milhões em recursos para a Volkswagen do Brasil, por exemplo.
Um componente importante em relação ao Brasil é que mesmo diante das dificuldades que estão sendo enfrentadas, a economia brasileira continua aberta ao setor externo. Como o mundo está fechado neste momento, há um movimento mais agressivo dos importadores que buscam nesses momentos de crise mercados compradores sendo o Brasil um deles hoje, ao lado dos Estados Unidos.
Um exemlo disso pode ser visto pelo balanço da Abimaq que mostra um recuo continuado das exportações de máquinas e implementos agrícolas, alta de apenas 0,7% até maio deste ano, contra uma invasão das importações desses produtos, de 66,5% acima do mesmo período do ano anterior.
Para o produtor e para a indústria de pneus – originais ou de reposição – esse movimento pode ser visto como positivo, na medida em que gera uma demanda futura por pneus de reposição no mercado interno. Ganham os que atuam na reposição e os reformadores de pneus, com consequentes movimentos positivos sobre os fornecedores de insumo, no caso, de borracha natural.
Dificilmente a mídia brasileira, fechada com o PT, vai dizer que estamos em crise, ou que a crise lá fora é apenas uma marolinha aqui. Na verdade, as medidas anticíclicas visam assegurar um quadro de recuperação do status econômico que o Brasil vem perdendo a olhos vistos, principalmente com a crise na Europa e com o baixo desempenho da China, dois dos principais parceiros econômicos do país no exterior.
Portanto, o momento é de expectativa para um quadro melhor, embora seja necessário ter em mente que há sim grandes oportunidades em curso e nichos específicos operando muito bem, obrigado, mas no contexto geral, o quadro ainda pede muita atenção, sendo que os resultados semestrais que começarão a ser lançados no mercado agora trarão em seu bojo medidas corretivas muito fortes por parte dos gestores de grandes empresas, globais ou não.
Como no mundo corporativo crise é oportunidade, a hora, portanto, é agora.