Levantamento de preços da borracha natural apurado pela Transportepress.com, com base nas cotações médias da SMR 20 – Standard Malaysian Rubber 20 – negociada na Malaysian Rubber Board, mostra forte volatilidade com movimento crescente de alta nos últimos meses.
O SMR 20 é o principal insumo usado para a fabricação de pneus e sua forte flutuação de preços tem provocado preocupações crescentes entre os principais fabricantes do Sudeste da Ásia, um movimento que analistas de mercado ouvidos pela Transportepress.com já está chegando ao Brasil, e com força. Pior, vai criar dissabores a transportadores e frotistas, bem como ao consumidor em geral.
Vamos aos números: Hoje, 13 de fevereiro, o preço do insumo (US$ cents/quilo) na Malaysian Rubber Board está na média de US$ 225,49. Esse preço, comparado ao praticado em 2016, de US$ 110,32, reflete alta de 104,40% e é o mais alto desde 2014, quando registrou média de US$ 191,05.
No mês a mês quisemos ver desde quando os preços estão sendo puxados para cima e o gráfico mostra que o movimento mais forte de elevação teve início em junho do ano passado, quando a SMR 20 estava cotada na média de US$ 127,21. Desde então, já subiu 77,26%. Comparada há 12 meses, está em alta de 106,78%.
Impacto
O impacto disso sobre a indústria de pneus é dos mais sérios, uma vez que a borracha natural se insere dentro de uma cadeia que varia, de pneu para pneu, de mais de 70 tipos diferentes de matérias-primas necessárias para a confecção do produto.
Outro item que tem forte peso na composição do pneu e em seu preço final é a borracha sintética – que não estamos medindo aqui, mas cujos preços também estão bem salgados, uma vez que tem sua base na indústria de petróleo e os preços do barril têm subido significativamente também.
Apenas para explicar, a borracha natural tem como base a Hevea Brazilienses, uma planta genuinamente brasileira, mas que foi transportada e transplantada no Sudeste da Ásia, hoje a maior região produtora do insumo. Há outras alternativas de se fazer borracha natural, através do dandelion (dente de leão), guaiúle, soja etc, mas 99,9% dos pneus produzidos com borracha natural são feitos a partir da Hevea Brazilienses.
O que está acontecendo
Sazonalmente, o Sudeste Asiático é sacudido por intempéries naturais, como agora, com excesso de chuvas na Tailândia (um dos maiores produtores do mundo) e o período de inverno (secas) em mercados gigantes como a Malásia e Indonésia, o que afeta a demanda desse primeiro trimestre.
Essa pseudo falta de abastecimento do insumo de parte dos países produtores ocorre em um momento bem sensível: o governo chinês alterou regras de funcionamento do mercado automotivo local e reacendeu a chama para forte propensão para a oferta e demanda de veículos de passeio mais eficientes e ecológicos (incluindo pneus) e caminhões mais adequados às estradas locais (restrição de peso no transporte, incluindo pneus).
Desnecessário dizer que a China é o maior mercado automotivo (e de pneus) do mundo e desnecessário dizer que esse mercado não pode se mover sem pneus. E pneus são feitos de quê? Borracha (natural e sintética) além de outros insumos. E tem borracha natural abundante hoje? Os números da Malaysian Rubber Board apontam que tem (em médio prazo), mas não para todo mundo (ao mesmo tempo), em curtíssimo prazo.
Reflexos
Na China, principalmente, está acontecendo de tudo hoje. Fábricas pequenas e médias fechando as portas – não tem condições de adquirir borracha natural ao preço atual – ou não tem como atender aos pedidos já contratados diante da onda de aumentos. Na parte de cima da tabela, as grandes estão aumentando os preços de seus pneus até duas vezes por mês e quase todas anunciando reajustes em cima de reajustes no mês a mês.
A questão bateu na maior empresa produtora de pneus do mundo, a Bridgestone e na segunda maior do mundo, a francesa Michelin. As duas filiais que atuam nos Estados Unidos já anunciaram aumentos de preços de 8% a partir de março válidos para Estados Unidos e Canadá, movimento já adotado pela Yokohama, outra gigante do setor. A Michelin aplicou o aumento a toda a sua linha de produtos.
E no Brasil, um mercado clássico para aumentos de preços? Fontes ligadas ao setor importador relatam que os preços vão subir, não apenas os pneus importados como os nacionais. “Todos temos em comum o uso da borracha natural e todos somos afetados por um aumento de mais de 100% do insumo”, diz um executivo do setor.
Entre as questões relativas ao mercado interno, as fontes ouvidas relatam alguns pontos importantes:
Número 1: a safra agrícola está puxando a economia brasileira e o movimento no campo está muito forte, o que está levando montadoras de caminhões, picapes e veículos agrícolas em direção ao interior do país. “Esse movimento está ajudando a desovar estoques de pneus e a manter o chão de fábrica ativo, porém, tem gente que acionou o mercado externo e está sem produto pronto para atender os clientes rurais já, agora, nesse instante”, destaca um revendedor de pneus nacionais. Segundo ele, em um ambiente de preços adicionais de borracha natural, falta momentânea de produção em estoque e demanda crescente no campo é possível que as planilhas venham com novidades (aumento de preços). “Se dá para segurar, seguramos”, disse.
Número 2: ouvimos três gestores de frota que deram respostas muito semelhantes: Michelin, Pirelli, Continental e Bridgestone apresentaram preços médios entre 3% e 4% mais altos em janeiro deste ano. Algumas, de acordo com os negócios que possui com cada transportador mantiveram a tabela congelada. Quem subiu o preço deu prazo. Exemplo: antes dava 45 dias para pagar e hoje abriu 30/60 e indexou um desconto no serviço de recapagem. Questionados se sabiam do aumento de preços da borracha natural, os comentários foram comuns, também: o estoque está adequado às necessidades do momento, caso negativo, comprariam antes de os preços subirem. “Se subir muito meu CPK (custo por quilômetro) já era”, disse um deles. “Eu preciso comprar pneu a um preço barato para manter meu CPK”.
Número 3: no quesito pneu importado o verbo é aumento. “Já está tendo aumento e vai subir mais. O movimento de alta começou em novembro do ano passado e quem quiser comprar pneu importado compre agora, porque os preços de aquisição no exterior estão 10% a 15% mais altos e vão subir ainda mais até o encerramento desse semestre”, diz um executivo do setor.