Neste primeiro semestre tivemos de reduzir nossas exportações para atender a súbita demanda por pneus registrada pelo setor de transportes, principalmente motivado pela safra agrícola”. A frase parece retratar outro país e não o Brasil, mas é da economia nacional – e sua conjuntura atual – que o diretor de Equipamento Original da Bridgestone do Brasil, Marcos Aoki está se referindo em conversa mantida com a Transportepress.com, em recente visita à fábrica da Bandag, em Campinas (SP).
Apenas para pontuar: em função do baixo nível de atividade da economia brasileira em 2015 e 2016, e, principalmente, pelo desempenho da produção e venda atípica de veículos, desde então, a indústria de pneus encontrou nas exportações uma alternativa viável para manter o chão de fábrica ativo e escoar a produção interna aos mercados internacionais, algo que o executivo da Bridgestone faz o destaque: se ainda não está 100% começou a dar sinais de consistência e melhora.
O setor agrícola é o grande responsável por isso, vem sendo o carro-chefe da economia nacional e todos os fabricantes de veículos estão de olho nesse potencial segmento, em que pese os sinais ainda incipientes de recuperação da indústria de serviços.
Marcos Aoki, que agora está afrente das operações de OE (equipamentos originais – vendidos diretamente para as montadoras), destaca que os negócios são de gente grande, com forte competitividade e concorrência, mas os números da Bridgestone mostram-se acima da média de mercado.
Alguns fatores que extrapolam as questões produtiva, comercial e mesmo de empresa (s), são os fortes e agudos aumentos de preços de matérias-primas. De um lado a borracha natural (muito usada para a composição das laterais dos pneus) e a sintética, cuja preço se baseia na cotação do petróleo. Ambos os insumos vêm provocando dores de cabeça nos executivos do segmento, sendo que no exterior, empresas produtoras de pneus chegaram a mudar suas tabelas de preços duas vezes em um único mês.
Marcos Aoki mexe a cabeça e destaca que diante do quadro difícil da economia brasileira, falar em aumento de preços é uma coisa complicada. “Não dá para repassar esses aumentos”, diz.
Especificamente para os preços de pneus de carga, Aoki tem razão. Levantamento de preços feito pela Transportepress.com com transportadores da região do Grande ABC, mostra que um pneu Bridgestone 295/80 R22.5 Direcional R268 era comercializado a R$ 1.210,00 em junho de 2015, passando a R$ 1.320,00 em junho de 2016 – alta de 9,09% alta real de 2,63% frente ao IPCA de 6,29% no período.
Em compensação, em maio desse ano o modelo tinha preço de R$ 1.310,00, menos 0,76% do que era há 11 meses atrás – para um IPCA acumulado até maio de 1,42%, o que reflete na verdade uma perda real de 2,15%, ou margem (de lucro) de apenas 0,48 ponto percentual.
No momento da conversa com Aoki não tínhamos os números expressos aqui, mas o executivo ressaltou que a margem de lucro das operações vem ficando bem estreita – conforme está comprovado acima.
Banda Verde
Um dos compromissos mais sérios entre as grandes corporações globais – e posturas nada construtivas como a do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump -, a Bridgestone se pronunciava, já em 2012, com a meta de utilização de materiais 100% sustentáveis em seus produtos até 2050.
Falar em sustentabilidade quando se trata de pneus, borracha (principalmente a natural) e a relevância que a recapagem tem nesse contexto é um prato cheio, ao qual Marcos Aoki qualifica a presença (não tão acentuada ainda) das bandas Ecopia no Brasil.
Tem espaço para crescer, tem ainda uma necessidade de aculturamento do usuário, mas o caminho é esse, relatou de forma informal, destacando que a busca por novos materiais, como o Guaiúle, produzido pela BATO – divisão Bridgestone nos Estados Unidos – ainda não contempla, em volume, as necessidades de uso de borracha natural pelas empresas do grupo como um todo.
“Estamos investindo, apostando, mas a borracha natural, em volume, ainda é a mais usada”, disse.