A indústria brasileira de pneus tem este ano o melhor resultado da balança comercial do setor, naquele que representa o maior e principal segmento do mercado nacional: o de pneus de passeio, comerciais leves e SUVs.
De janeiro a outubro, a indústria ampliou suas vendas externas em 8%, para US$ 896,0 milhões, e assistiu a uma substancial queda de 33,8% nas importações (US$ 539,1 milhões), resultados que garantiram uma geração líquida de divisas recorde, de US$ 356,9 milhões, ou o maior resultado superavitário para essa categoria de pneus nos últimos seis anos.
Comparado ao superávit comercial auferido no mesmo período do ano passado, de US$ 15,304 milhões, o resultado deste ano é 2.232,48% maior.
Enquanto os números se mostram superlativos, 2016 se configura como o pior ano para o desempenho das importações oriundas de mercados asiáticos dos últimos seis anos.
As exportações crescem principalmente em mercados maduros como o Japão e Estados Unidos (2º maior importador de pneus brasileiros), ou associados ao Nafta, como o canadense e mexicano.
As exportações para o Japão avançaram 99,6% no acumulado do ano, enquanto as importações Made in Japan recuaram 62,2%. Para os Estados Unidos, vendas em alta de 29,6% e compras em baixa de 32,5%.
Ao México, as exportações tiveram expansão de 19,4%, enquanto as importações recuaram expressivos 62,4%. Para o Canadá, alta de 12,9%, sem importações como contrapartida.
Para a Argentina, maior importador de pneus brasileiros, as vendas cresceram 8,65%, ou o melhor resultado desde 2013.
Mas e a China e os Tigres Asiáticos?
Segundo Milton Favaro Junior, diretor presidente da Associação Brasileira dos Importadores e Distribuidores de Pneus (ABIDIP), todos as importações de pneus de veículos de passeio, comerciais leves e SUVs oriundas de mercados asiáticos registraram fortes quedas, no pior desempenho desde 2011.
No geral, as aquisições caíram 33,8% sobre 2015 e 53,7% sobre 2014, destacando-se recuos nas importações da Índia (-83,3%), Tailândia (-56,1%), Coréia do Sul (-38%), Indonésia (-32,1%), China (-24,7%), Vietnã (-21,1%) e Taiwan (-16,7%), destaca o executivo, ao apontar que as compras de pneus da Ucrânia simplesmente zeraram.
“Apesar da taxa de câmbio ter sofrido queda de 18,54% até outubro, o que favorece as importações, a atividade econômica expressa no poder de consumo, na produção e comercialização de bens (veículos) se mostra muito fraca”, diz.
Outro ponto ressaltado pelo executivo diz respeito ao impacto das taxas punitivas por dumping aplicadas sobre importações oriundas da China, Coréia do Sul, Tailândia, Taiwan e Ucrânia, como outro impeditivo para melhores performances. “Um exemplo é que as importações de pneus da Ucrânia simplesmente acabaram”, aponta.
Milton Favaro Junior também aponta outra questão que poucos consumidores brasileiros conhecem: “A indústria nacional e as próprias montadoras de veículos também importam pneus”, revela.
Entre janeiro e setembro deste ano, Pirelli, Michelin, Continental, Goodyear, Bridgestone, Sumitomo e Fate já trouxeram do exterior aproximadamente US$ 98 milhões em pneus importados.
Já empresas como BMW, Volkswagen, General Motors, Honda FCA Fiat Chrysler, CAOA, Mercedes-Benz, Honda, Renault, Iochpe-Maxion, Ford, Hyundai e Toyota, importaram diretamente para suas plantas industriais no Brasil em torno de US$ 17,5 milhões em pneus.
“Só nesse exemplo, temos aproximadamente US$ 115,5 milhões em importações oficiais feitas por empresas brasileiras em pneus de passeio, comerciais leves e SUVs. Se você somar o que se importou este ano, do Japão, Coréia do Sul, Vietnã, Tailândia, Índia, Indonésia, Sri Lanka e Taiwan, temos, aproximadamente, US$ 102,5 milhões. Aqui cabe a pergunta: quem importa mais? A indústria brasileira de pneus e veículos ou os importadores independentes?”
Analisando individualmente, a indústria nacional é a maior importadora de pneus do Brasil. As marcas de pneus da indústria nacional representam aproximadamente 30% de todas as importações de pneus de carro e camionetes feitas em 2016.
“O Brasil está em segundo lugar no mundo em medidas protecionistas aplicadas com taxas antidumping e em pneus é o recordista mundial. Temos países que simplesmente extinguiram as importações por causa disso”, diz Favaro Junior.
Segundo ele, países em que as indústrias nacionais importam ou têm subsidiarias não sofreram dumping e, em um caso, o do Japão, houve acordo para uma importação com preço diferenciado, sob alegação de “transfer price” para subsidiária brasileira.
“Não é de surpreender, pois essa estratégia é típica de multinacionais que se instalam nos países e tentam transformar o mercado em oligopólio”, diz.
“Esperamos que o setor reaja em 2017, pois o mercado de importação de pneus gera mais de 100.000 empregos diretos e indiretos no Brasil – os chamados auto centers e borracharias, que não tem bandeira da indústria nacional, dependem, exclusivamente, dos importadores para sobreviver e, normalmente, são os que têm melhor oferta ao consumidor brasileiro”.